O que acontece e não fica em Las Vegas
Em exclusivo ao M&P, Inês Reis e Gil Santos, redatora e diretor de arte da Leo Burnett, revelam as ferramentas adquiridas na mentoria criativa, que reúne em Las Vegas 125 jovens talentos internacionais, durante o programa organizado pelos London International Awards
Catarina Nunes
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Para Inês Reis e Gil Santos, redatora e diretor de arte da Leo Burnett Lisboa, tudo parece mais real quando veem o sinal que marca a chegada a Las Vegas. Durante cinco dias, esta cidade icónica, mais associada aos casinos e aos espetáculos, será também o epicentro do que vem a ser uma experiência profissional transformadora, para os jovens criativos que representam Portugal no programa de mentoria dos London International Awards (LIA).
Desenvolver, inspirar e encorajar 125 jovens talentos da área criativa, de todo o mundo, é o objetivo do Creative LIAisons 2024, que lhes irá fornecer ferramentas profissionais que irão reverberar para lá do que se passa durante o programa em Las Vegas. Selecionados através do Art Directors Club of Europe (ADCE), os dois criativos da Leo Burnett são os únicos participantes nacionais. Ambos com 30 anos, Inês Reis é escolhida por ter ganho Ouro no Young Lions Portugal 2023, enquanto no caso de Gil Santos o critério é o título de All-Star (vencedor) na Portfolio Night Lisboa 2023.
De 30 de Setembro a 4 de Outubro, a semana de mentoria criativa no hotel The Encore At Wynn promete uma imersão em palestras inspiradoras, ‘workshops’ dinâmicos e a oportunidade de conhecer e partilhar experiências com alguns dos grandes ‘rockstars’ da indústria criativa global.
Mais. O programa LIAisons 2024 decorre em simultâneo com a avaliação dos trabalhos a concurso nos LIA, à qual ambos os criativos assistem e que os faz ganhar conhecimentos de apoio no desenvolvimento da criatividade. “Volto principalmente com uma nova visão sobre o que se passa numa sala de júri. Foi uma excelente oportunidade de desmistificar todo o processo e perceber, ao vivo, a importância e o peso dos detalhes que elevam ou abatem um bom trabalho”, argumenta Gil Santos.
Já Inês Reis salienta que “estar presente na sala de júri e perceber o tipo de dúvidas, opiniões e debates, que determinados detalhes podem suscitar, foi muito importante para redefinir a forma como olho para uma ideia, um ‘case’, e para a sua história”.
A importância da resiliência
Certos de que a criatividade é uma linguagem universal, como comprovam nas palestras a que assistem ao longo da semana, a experiência em Las Vegas encoraja Inês Reis e Gil Santos a questionar as normas e a explorar o potencial da criatividade.
São muitos os ‘insights’ que recolhem, desde a importância da resiliência no processo criativo, discutida por diretores criativos executivos, até à ideia de quebrar regras para inovar. A mentoria criativa, aliás, traduz-se nos momentos de partilha que acontecem ao longo da semana, liderados por diretores criativos executivos e CEO dos quatro continentes.
“Ter uma proximidade tão natural com líderes do mercado, que nos inspiram tanto diariamente e poder aprender com eles, foi umas das experiências mais gratificantes da minha carreira até agora”, Inês Reis. Entre as palestras mais marcantes, a redatora salienta a que é dedicada à estratégia criativa e ao impacto transformativo nos negócios, em que a frase “estrategas e criativos juntos podem resolver qualquer coisa” é a que mais lhe fica a ressoar.
“Isto reforça como o poder de uma campanha está na forma como contamos a sua história. Para que isso aconteça, há coisas fundamentais, como entender a marca profundamente e procurar as pequenas oportunidades, ir onde ninguém vai. E quando um cliente ou diretor criativo não aceitam uma ideia e realmente acreditamos nela, então ‘dig a little deeper'”, argumenta Inês Reis.
A matemática da generosidade criativa
Inês Reis destaca também a palestra sobre a matemática da generosidade criativa, conduzida por Susan Credle, membro do conselho da FCB e consultora criativa da IPG.
“Sublinhou a importância de partilharmos as nossas ideias e discutirmos em conjunto, e não nos agarrarmos a elas como se fossem apenas nossas. A colaboração é crucial para o crescimento. Para ela, a criatividade nunca está concluída, e é esse espírito colaborativo e aberto que faz com que o processo seja enriquecedor para todos e nos leve mais longe”, conta a redatora da Leo Burnett.
Do lado de Gil Santos, entre as apresentações mais marcantes refere a de Toan Nguyen, fundador e diretor executivo da Jung von Matt Nerd, agência alemã nas áreas criativa e de media que trabalha jogos digitais e as suas comunidades.
“O que nos transmitiu foi que o mundo já não é movido pela cultura tradicional, mas pelos ‘nerds’, ‘geeks’ e super fãs. São eles que movem a cultura e nós temos a oportunidade e a capacidade de os acompanhar. Os meios digitais permitiram que o nicho fosse global. O mundo mudou e temos o dever de pertencer ao presente. Há públicos para além do tradicional, há mundos maiores e com maior alcance do que os canais habituais”, refere o diretor de arte da Leo Burnett.
Outra das apresentações que destaca é a de Bianca Guimarães, sócia fundadora e diretora criativa executiva da Mischief, agência independente norte-americana que se tem destacado a nível mundial. Gil Santos considera que o trabalho de Bianca Guimarães e da Mischief parece arriscado e provocador à superfície, mas na verdade é o resultado de uma estratégia cuidadosamente desenhada.
“Um dos pontos principais da sua palestra foi sobre a importância de proteger o ‘core’ das ideias, ou seja ‘don’t make jaws without the shark’, como Bianca Guimarães referiu. Significa que não devemos deixar que algo demova a essência de uma ideia e, quando isso é inescapável, temos de ser flexíveis e honestos com o cliente e procurar outra solução. É preferível descobrir outro caminho do que não concretizar uma visão”, relata Gil Santos.
Oito horas para responder a um ‘briefing’
A semana do programa LIAisons 2024 não é só feita de passagem de conhecimento. Inclui o desafio de receber e responder a um ‘briefing’. No workshop ‘Create and Make’, os mentorandos são reunidos em grupos de 11 criativos, moderados por Tara Mckenty, diretora criativa executiva e de inovação da BMF Sydney, agência criativa dedicada aos media sociais.
Ao grupo dos jovens criativos nacionais cabe a tarefa de dar resposta à criação de uma nova empresa, personagens e produtos para a Superplastic, marca criadora de bonecos de celebridades em vinil e outros colecionáveis, com o foco em universos digitais imersivos. O objetivo é lançar a nova galáxia da marca, a Supercorp, que quer refletir uma crítica humorística ao capitalismo.
“No caso do meu grupo, tentámos responder à pergunta ‘como dar energia a uma geração Z sobre-estimulada, que quer estar em todo o lado, fazer tudo e não perder nada?’. Para isso, criámos uma empresa que rouba a energia dos próprios consumidores, para a vender novamente em formato de bebida energética”, revela Inês Reis.
Gil Santos explica que “a narrativa de cada um dos universos tem a mesma estrutura: existe uma ‘big corp’ que corrompe o mundo e todos os personagens (brinquedos) são um comentário esdrúxulo aos efeitos negativos dessa empresa. O tom é cómico, sarcástico e absurdo”. A resposta ao ‘briefing’ é, por si só, uma sessão de mentoria de oito horas, entre o processo para chegar à ideia, a projeção e a execução, até apresentarem o resultado final.
“Todos usamos o mesmo tipo de músculo criativo”
Ao longo da semana, as horas sem dormir por causa do fuso horário e o calor constante perdem, segundo Inês Reis, face à “oportunidade de conhecer esta cidade tão inusitada, com todo o seu brilho, e ao mesmo tempo tão impessoal, e o seu caos constante. E saber que, no meio de tudo isto, o que mais se destacou foi a relação genuína entre todas as pessoas envolvidas no programa”.
Para Gil Santos não há aspetos negativos a apontar. “Foi uma oportunidade de visitar os Estados Unidos pela primeira vez, de conhecer o deserto do Nevada e a cidade de Las Vegas. A somar a isto estivemos em contacto com grandes nomes da indústria, fizemos novas amizades e aprendemos. Foi uma experiência ‘win-win'”, considera.
O diretor de arte da Leo Burnett destaca a importância da diversidade como uma das maiores lições que traz do programa LIAisaons 2024. “Estar entre tantos pares de sítios diferentes foi inspirador e enriquecedor, a nível pessoal e profissional. Todo o evento foi uma prova do seu valor. Ouvir tantos testemunhos, entre conversas, avaliações e apresentações, provou que o futuro está na inclusão do maior número de vozes, ‘insights’ e ‘inputs’. Tanto a sala de júri como o workshop que fizemos foram prova disso”, resume Gil Santos.
Em reflexão comum, Inês Reis e Gil Santos ressaltam a conclusão de que a maioria das questões e dilemas dos criativos são os mesmos, independentemente dos contextos, culturas e visões dos profissionais que se reuniram em Las Vegas: “como liderar?” e “como ganhar a confiança dos clientes?”, por exemplo. A dupla da Leo Burnett regressa com a certeza de que o que faz um trabalho ser bom atravessa fronteiras. “Todos usamos o mesmo tipo de músculo criativo”.
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