Ricardo Tomé, director coordenador da Media Capital Digital e docente na Católica Lisbon School of Business and Economics
Streaming meaning: opinião de Ricardo Tomé
A década que há pouco terminou foi pródiga e disruptiva no tema. Só para lembrar algumas datas: o Netflix lançou a sua versão streaming em 2010; pessoalmente estava na RTP […]
Meios & Publicidade
Natal no M&P com notícias diárias no site
Milka promove Calendário do Advento digital e interativo
Media britânicos recusam uso de obras protegidas por empresas de IA
Joana Santos Silva é a nova CEO do ISEG Executive Education
Holiday Inn Porto Gaia entra no ano novo inspirado na Era Disco dos anos 70 e 80
Temu cresce em mercados ocidentais e enfrenta desafio da rentabilidade
Rádio Comercial mantém liderança
Bloom lança concurso no TikTok para escolher influenciadoras digitais
Sesimbra Oceanfront Hotel convida a celebrar a passagem de ano com vista deslumbrante sobre o mar
Tascaria São Rafael é o spot perfeito com clássicos modernos portugueses para um fim de ano inesquecível
A década que há pouco terminou foi pródiga e disruptiva no tema. Só para lembrar algumas datas: o Netflix lançou a sua versão streaming em 2010; pessoalmente estava na RTP no projeto que, em 2011, lançou o RTP Play; idem na TVI quando lançámos o TVI Player em 2015; antes disso, em 2012, a Zon oferecia as gravações automáticas com a nova box Íris; em 2020, a SIC lançou o Opto. No panorama de streaming, contudo, outro serviço já havia, mas continuava a ser visto como outsider nesta luta de plataformas de uma nova TV: estávamos em 2005, no Dia dos Namorados, e três jovens lançavam o YouTube.
Convém refletir sobre o que é o streaming. Isto pode parecer redundante, quando estamos em 2023 e parece já toda a gente saber o que é o streaming. Mas, se olharmos à nossa volta e fizermos o exercício de perguntar às várias pessoas que consomem vídeo, iremos notar que o consenso é ainda difícil de obter.
Alguém poderá julgar que uma plataforma de BVOD (como TVI Player, RTP Play ou Opto) não são puros streaming, mas sim o Netlix ou a Amazon Prime; outros discordarão. Que a DAZN/Eleven Sports e a Sport TV são apenas canais de desporto, e outros discordam, anotando as suas poderosas apps de streaming.
Entraremos depois no debate pelo prisma do volume de consumo, de qual é a maior plataforma de streaming nacional em utilizadores, e sem dúvida teremos quem irá referir as gravações automáticas oferecidas nas apps e boxs da MEO, NOS, Nowo e Vodafone – só lhe falta um nome e marca comum, uma app única, e se a experiência do serviço fosse igual nos três operadores seria imediato o reconhecimento de que já temos e usamos streaming de forma massificada há uma década.
Finalmente, outro debate, o de que o TikTok, o Instagram e, mais óbvio, o YouTube são redes sociais e não são streaming – mas baixemos a uma geração mais jovem a pergunta e as respostas tornam-se reveladoras de que essa fronteira não existe.
Tudo isto sublinha uma ideia: o streaming é já uma realidade estrutural no consumo de conteúdos vídeo de curta, média e longa duração, em direto ou diferido, por canais ou à peça; mas não é mais possível a simplificação de um conceito como existiu (em Portugal durante 50 anos) da TV como algo que sabíamos sem dúvida o que era: oferta de conteúdos vídeo empacotados em canais e distribuídos para se verem num televisor em direto. Ponto.
Vamos então ao contexto
Como partilho acima, este é um enredo complexo. Mas nos nossos cérebros é sempre mais fácil (e numa boa maioria das vezes enganoso) analisar situações de forma dicotómica. Preto e branco. Esquerda e direita. TV e streaming…
Aquilo que verdadeiramente interessa, e todas as empresas de media já o entenderam nesta última década, é só isto: quantos veem os seus conteúdos e onde. Se são no televisor em forma de canais, na internet, em apps móveis, em apps na smart-tv, dentro de redes sociais ou noutra forma, o que interessa continua a ser apenas e só uma coisa: quantos pares de olhos consigo colocar a ver o meu conteúdo de forma a ter a maior rentabilidade. O resto é meio irrelevante. O streaming é apenas uma forma técnica de poder distribuir (por via de uma ligação à internet).
Se antes a luta era: 1. Conseguir entrar na lista de canais e 2. Conseguir que o meu canal fosse o mais visto – hoje a luta é 1. Qual das plataformas é a mais promissora e adequada para nela colocar o meu conteúdo e obter o maior retorno (em número de espetadores ou em receita financeira paga obtida). Em vez de um contexto, temos vários: TV linear, canal FAST, plataforma de streaming própria, redes sociais, plataforma de streaming de terceiros. Se antes o meio estava decidido e o conteúdo era pensado sempre para esse meio (faltando perceber apenas a faixa horária e seu tipo de público), hoje mantém-se o racional, mas a panóplia de meios que o streaming oferece é muito maior.
E é aqui que voltamos à visão dicotómica (direi por vezes simplista) da análise muitas vezes feita, de que isto é só TV vs streaming: não é. E em cada país o contexto é tremendamente diferente, por vezes. Se damos por garantido que, em Portugal, 95% dos lares têm TV por cabo paga e acesso a apps de streaming para gravações dos programas incluídas no preço, em Espanha 50% dos lares não tem, antes obtendo uma dúzia de canais sem custo e podendo subscrever ou não apps de conteúdo com outra folga financeira. Se, em Portugal, o Netflix custa 7,99 euros€ e o ordenado médio líquido são 1100€, como querer comparar este contexto com um dos países mais ricos do mundo, a Noruega, onde o ordenado médio ultrapassa os 2700€ e o Netflix custa 7,5€…
Noutro exemplo, olhemos outro mercado que tem sido disruptivo: os EUA. Sabe qual é o serviço que mais tem crescido em subscritores no último ano? O YouTube. Os dados mais recentes da Nielsen dão conta de uma subida de quota dos 6,7% para 9,2%, onde o Netflix se manteve nos 8,1%, o Hulu 3,6% e a Amazon com 3,4%. Num período económico adverso, é a Google quem está a ganhar as mais recentes batalhas. E porquê? De novo não simplifiquemos. Porque o contexto importa. Porque o YouTube nos EUA é bastante diferente do que temos em Portugal, acoplando aos vídeos UGC que já todos vemos o serviço YouTube TV, onde a subscrição dá direito a canais TV, jogos da NFL, quatro meses de HBO Max, ofertas no Walmart e na Xbox.
Tudo somado… então?
Conta o conteúdo e a distribuição adequada. Voltamos ao cerne. O streaming permite hoje chegar de várias formas e em várias soluções ao espetador final. Sem dúvida que as empresas de media de tipo broadcaster, como a RTP, SIC e TVI no nosso país, como no resto do mundo, são quem continua a alimentar de forma mais cabal todo este universo, agora maior e com isso permitindo a entrada de muitos novos talentos. Mas, no final do dia, todos temos apenas 24 horas e precisamos de dormir, de nos divertir e trabalhar. E só os conteúdos mais relevantes vão vingar. Sejam vistos pela distribuição TV ou streaming. É uma velha máxima que não tem passado de validade porque o tempo assim o vai comprovando. Outrora optávamos com o telecomando ou com a cassete de VHS, hoje optamos na mesma, mas por entre uma panóplia maior existente. A opção mantém-se: ver o que nos dá mais gozo esteja onde estiver.
Artigo de opinião assinado por Ricardo Tomé, diretor coordenador da Media Capital Digital e docente na Católica Lisbon School of Business and Economics