Há mais de 600 mil portugueses a ler jornais e revistas através do WhatsApp
A partilha de jornais e revistas através de grupos nas redes sociais, prática ilegal que a Visapress estima estar a custar à imprensa cerca de 3,5 milhões de euros todos os meses, foi pela primeira vez alvo de um estudo em Portugal. Conduzido pela Netsonda, sustenta que o WhatsApp estará a multiplicar seis a sete vezes o alcance das edições impressas
Pedro Durães
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A partilha de jornais e revistas através de grupos nas redes sociais, prática ilegal que a Visapress estima estar a custar à imprensa cerca de 3,5 milhões de euros todos os meses, foi pela primeira vez alvo de um estudo em Portugal. Conduzido pela Netsonda, quantifica em mais de 600 mil as pessoas que recebem e leem publicações desta forma. A partir destes dados, sustenta-se que o WhatsApp estará a multiplicar seis a sete vezes o alcance das edições impressas
“Apesar de, no papel, os jornais apresentarem globalmente um decréscimo ao longo do tempo (dados da APCT), os mesmos permanecem muito procurados e relevantes no universo do WhatsApp, plataforma que potencializa até 6,5 vezes o alcance dos jornais e revistas em Portugal quando comparados com os números das versões impressas”. Esta é a principal conclusão de um estudo conduzido pela Netsonda com o objetivo de caracterizar os hábitos de receção e leitura de jornais e revistas através da plataforma WhatsApp “de forma a potencializar a receita destes meios de comunicação”. Identificada como a aplicação de comunicação mais utilizada entre os portugueses, a plataforma tem estado no centro do fenómeno da partilha de publicações em formato PDF nos grupos de redes sociais, prática que tem vindo a crescer até atingir, com a pandemia, um patamar até então sem precedentes.
“O nosso objetivo foi analisar e quantificar este fenómeno para ajudar os meios a perceberem melhor o seu verdadeiro alcance e como este pode ser endereçado”, justifica Salvador Patrício Gouveia, CEO da Netsonda, explicando que a decisão de avançar com este estudo surge perante “a constatação de uma realidade cada vez mais presente na sociedade portuguesa”. Realizado durante o passado mês de dezembro, a partir de 470 entrevistas online e com uma margem de erro de 4,52 por cento, o estudo indica que a aplicação de comunicação é usada por 89 por cento dos utilizadores de internet em Portugal, quantificando em cerca de 10 por cento aqueles que admitem receber e ler jornais e revistas por este meio (ver gráfico acima). Serão perto de 605 mil pessoas com acesso múltiplas publicações, de forma gratuita, num país onde a erosão da circulação impressa paga tem sido uma constante na última década e onde mesmo o jornal com mais expressão em banca, o Expresso, não chega atualmente sequer aos 60 mil exemplares vendidos por edição.
Para os publishers, que se uniram no último ano em campanha contra uma prática que alertam ser ilegal, e para a Visapress, que tem chamado a atenção para os custos financeiros sofridos pelas publicações, estes números representam uma ameaça. Perspetiva que não será partilhada pela Netsonda. Analisando o perfil dos utilizadores, e após concluir que cerca de 48 por cento dos que leem jornais ou revistas através da aplicação WhatsApp são adultos dos 35 a 54 anos e outros 35 por cento possuem entre 18 e 34 anos, a empresa de research acredita que “o desenvolvimento e otimização do processo de acesso e leitura online de jornais e revistas em Portugal poderá potencializar a receita destes meios de comunicação”.
“O estudo não teve em conta questões de legalidade das práticas que analisou, apenas procurou perceber a sua dimensão”, esclarece Salvador Patrício Gouveia quando questionado pelo M&P se acredita que os publishers estarão recetivos a olhar para estes dados na perspetiva de reconhecer valor comercial a esta audiência. “Dada a conclusão a que chegámos sobre o aumento das audiências através destas práticas, parece-nos que é um importante contributo para os publishers refletirem sobre se pretendem tirar partido deste fenómeno e de que forma”, sustenta o responsável, que destaca, entre os resultados obtidos, “o potencial demonstrado pelo canal WhatsApp para multiplicar as audiências e o facto de a publicidade ser bem percecionada por mais de metade das pessoas quando se lê neste novo canal”.
Por outro lado, acrescenta, “destacamos as diferenças por tipo de publicação, sendo mais potenciado nos jornais económicos, revistas de motores, jornais desportivos e revistas de grande informação”. “Há uma conclusão tambem muito relevante, de natureza qualitativa, mas resultante da quantitativa, que é a relevância e interesse comprovado nos jornais e na informação fidedigna. Discute-se há muito a relevância ou desvaloriação da imprensa no seu modelo antigo mas este estudo mostra que as pessoas continuam a valorizá-la, apesar de acederem a ela num canal diferente”, analisa o CEO da Netsonda.
O impacto das partilhas por segmento
Analisando os dados, no caso dos diários generalistas, considerando a tiragem média dos títulos e as leituras dos mesmos via WhatsApp, o estudo conclui que o crescimento através da partilha e leitura nesta plataforma chega aos 394 por cento, alcançando um universo total estimado de 797.444 pessoas. Considerando o universo total de publicações (impressas e partilhadas através da aplicação), esse crescimento nos semanários situa-se nos 230 por cento, colocando o alcance total estimado nas 350 mil pessoas. Números que, atendendo aos dados da Netsonda, estão longe de ser os mais expressivos. No caso dos jornais desportivos esse crescimento chegará aos 539 por cento, correspondendo a um total de 286.258 pessoas, e nos jornais do segmento económico aos 645 por cento, fazendo disparar a tiragem média de 36.408 para um alcance superior às 271 mil pessoas.
Do lado das revistas, é no segmento automóvel que se regista o maior impacto das partilhas. “Estima-se que as revistas de motores cresçam 550 por cento quando considerado o universo total de publicações (impressas e partilhadas via aplicação) face ao número de impressões médias mensais da mesma”, refere o estudo, acrescentando que “de forma idêntica, estima-se um crescimento 492 por cento nas revistas de grande informação com a leitura online e via WhatsApp dos mesmos”. Seguem-se as revistas dos segmentos masculino e feminino (+341 por cento) e do segmento de economia e gestão (+316 por cento). “As revistas de televisão e cor-de-rosa são as que apresentam menor crescimento com a leitura online, apresentando um aumento de 127 por cento, resultado sobretudo impactado pela baixa variação entre o número médio de impressões semanais e as leituras via WhatsApp”, indica o estudo.
Este tema é aprofundado na edição desta quinzena do M&P