As marcas de luxo, a braços com quebras nas vendas que se acentuam depois da pandemia, estão a recorrer cada vez mais ao LinkedIn para transmitir os desfiles de moda e às redes sociais para mostrar as novas coleções, procurando atrair as novas gerações de consumidores e os utilizadores destas plataformas. A abertura de lojas nas principais artérias comerciais europeias é outra das estratégias para recuperar o negócio.
De acordo com um estudo realizado pela rede social profissional, entre 2021 e 2024 as transmissões de desfiles de moda em direto quintuplicaram, com marcas como Dior, Balenciaga e Louis Vuitton a procurarem conectar-se com consumidores com um perfil económico mais elevado. Segundo a análise, 85% das marcas de moda de luxo estão presentes no LinkedIn, usando a rede para divulgar produtos, não se ficando apenas pelas publicações corporativas.
“A moda de alta qualidade, outrora reservada para revistas de luxo e montras exclusivas, está agora a dar passos ousados para o mundo profissional, exatamente onde os marcos de carreira e as compras de luxo colidem, com 67% dos utilizadores a comprar roupa depois de serem promovidos”, sublinha Stephanie Barret, diretora global de luxo do LinkedIn, citada no estudo.
À semelhança do que fazem no Instagram, a Cartier, a Chanel e a Jacquemus exibem muitas das novas criações na rede social profissional. No entanto, de acordo com a análise, a transmissão dos desfiles no LinkedIn Live, onde ficam disponíveis, gera um envolvimento maior.
Os quatro primeiros desfiles da Louis Vuitton, um dos exemplos apontados, fazem o número de seguidores da marca crescer 45%, passando dos 940.000 para os 1,36 milhões e evoluindo para os atuais 2,8 milhões, em cinco anos.
27% dos produtos de luxo são comprados nas redes sociais
Entre 2023 e 2024, segundo o LinkedIn, o número de seguidores das dez maiores marcas de luxo cresce 17%. Numa altura em que 27% dos consumidores que adquirem produtos de marcas de luxo através das redes sociais usam sobretudo o Instagram e no TikTok, o LinkedIn procura atrair uma nova vaga de influenciadores digitais com a transmissão dos desfiles de moda.
No Reino Unido, segundo o relatório ‘Beyond the Runway’, elaborado pelo grupo WPP, cerca de 40% dos consumidores que têm tendência a deixarem-se influenciar revelam ter em conta as opiniões pessoais dos influenciadores digitais, incluindo as posições políticas que muitos reservam para o LinkedIn e o X, antes de comprarem os produtos de beleza e moda de luxo que promovem.
“As marcas devem adaptar-se a este cenário em evolução, dando prioridade a parcerias autênticas com influenciadores e criando experiências de compra perfeitas que correspondam às expetativas ‘on-demand’ dos consumidores de luxo de hoje”, recomenda Rahul Titus, diretora de marketing de influência global da Ogilvy, citada no estudo.
Marcas de luxo investem em localizações privilegiadas
Apesar da aposta nas redes sociais, as marcas de luxo continuam a investir em lojas físicas, procurando concentrar as aberturas nas principais artérias comerciais. De acordo com o estudo ‘European Luxury Retail – Report 2025’, realizado pela Cushman & Wakefield, a Avenida da Liberdade, em Lisboa, regista a abertura de lojas de cinco marcas de luxo em 2024.
Além da marca de moda italiana Paul & Shark, que abre uma loja de 190 metros quadrados no edifício Liberdade 242, a marca de design de mobiliário Molteni&C inaugura a primeira ‘flagship’ em Lisboa. A Patek Philippe, em parceria com a David Rosas, abre a primeira boutique no edifício Liberdade 12. A IWC Schaffhausen, em parceria com o Grupo Tempus, também se estreia com uma boutique própria, na mesma avenida.
Após uma extensa renovação, a Cartier reabre em Lisboa em 2024 e a loja do antigo edifício do Diário de Notícias está arrendada “a uma marca a divulgar brevemente, com abertura prevista para este ano”, revela a Cushman & Wakefield em comunicado de imprensa.
“A Avenida da Liberdade é o destino por excelência das marcas de luxo internacionais, e o facto de estar no prime CBD [Central Business District] – onde se localizam as sedes das grandes empresas e hotéis de cinco estrelas – cria o habitat perfeito para estas marcas. Alguns edifícios têm boas fachadas e áreas que vão ao encontro dos requisitos das marcas, mas o grande desafio continua a ser o número de unidades disponíveis”, comenta Maria José Almeida, associada da Cushman & Wakefield Portugal e especialista em retalho de luxo.
A análise da consultora internacional revela que 83 novas lojas de comércio de luxo abriram nas 20 principais artérias da Europa em 2024, face às 107 identificadas na edição do estudo referente a 2023. A Via Montenapoleone, em Milão, é apontada como o destino de retalho mais caro do mundo, devido ao valor das rendas.