“Quis ficar em Portugal e lutar por este mercado”
A 004 define-se agora como uma agência de serviço integrado “no bullshit” e que procura “fucking ideas”. João Gomes de Almeida explica por que mudou o posicionamento da empresa com a sua entrada para director criativo
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A 004 define-se agora como uma agência de serviço integrado “no bullshit” e que procura “fucking ideas”. João Gomes de Almeida explica por que mudou o posicionamento da empresa com a sua entrada para director criativo
É o novo director criativo da 004, dirigida por Patrícia Reis, que se apresenta agora como uma agência de serviço integrado, deixando para trás o perfil de atelier de design. João Gomes de Almeida (28 anos) passou pela BAR e foi, até final do ano passado, director criativo da Nylon, que chegou a Agência do Ano nos Prémios Comunicação M&P. “Acredito piamente que os prémios são um bom barómetro do potencial criativo das agências. Por isso mesmo serão obviamente uma aposta da 004 a médio prazo”, defende.
Meios & Publicidade (M&P): Em termos práticos, o que está a mudar na 004 para que, com a sua entrada, a agência se apresente agora como uma agência de serviço integrado?
João Gomes de Almeida (JGA): Muita coisa, na verdade. Antes de mais mudou o nosso posicionamento, deixámos de ser um atelier para passarmos a usar a assinatura de “Fucking Ideas”. Esta assinatura demonstra efectivamente a forma como nos queremos afirmar no mercado: sabemos como ter boas ideias e sabemos que as boas ideias são as únicas que são capazes de criar uma boa relação entre
o consumidor e a marca. Paralelamente mudaram também os processos. O bom da 004 é que há 18 anos que já temos o tão bem afamado “design thinking”. O que estamos a fazer agora é adaptar esta metodologia também à publicidade, à activação e ao digital. Para além do posicionamento e dos processos, estamos também a construir uma nova filosofia de agência. Queremos ser a agência mais ágil, mais versátil, mais rápida e mais criativa do mercado – para isso estamos a cortar gorduras, fazer co-criação com os responsáveis das marcas, criar atalhos e abolir burocracias. Somos uma agência verdadeiramente “no bullshits”.
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M&P: Uma agência “no bullshit”? Há muito “bullshit” na relação agência-clientes?
JGA: Com a crise as agências tiveram que se reinventar e isso trouxe coisas boas e coisas más. Uma das coisas más foi o facto de muitas terem tirado o foco da ideia, para o colocarem do lado da estratégia (algumas) e outras do lado da tecnologia. Muitas agências criativas são hoje em dia tudo menos criativas, porque realmente criatividade é o que menos interessa lá dentro
M&P: E qual o papel dos marketeers?
JGA: De um momento para o outro, os marketeers começaram a dirigir-se às agências para comprar criatividade e no balcão encontraram alguém com a filosofia de um vendedor de bomba de gasolina, que rapidamente começou a tentar impingir-lhes um monte de coisas que eles não queriam nem precisavam, apenas porque parecia mais barato comprar em pack. Chegou o momento de dizer: Back to the basics! Na 004 respeitamos o trabalho dos marketeers, queremos aprender com eles sobre as suas marcas, queremos respeitar a visão que têm da sua marca, procurar insights brilhantes, ter “fucking ideas”, desafiá-los a colocarmos em conjunto a ideia na rua e no final conseguirmos resultados brutais. Quanto mais simples e honesto for o negócio da publicidade, mais bonito também se tornará.
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M&P: Pode fazer uma radiografia da 004 neste momento? Quem são os principais clientes?
JGA: A 004 tem neste momento uma equipa de oito profissionais de topo e acabámos de contratar um novo elemento para a equipa de contacto. É uma equipa extraordinariamente sénior, eu sou o segundo mais novo, e que está em mutação. É natural que nos próximos meses entrem mais pessoas, mas isso irá depender obviamente da evolução do negócio. Quanto aos principais clientes é algo sobre o qual não me vou debruçar agora. Acabámos de fechar hoje mesmo um novo cliente para um trabalho de above-the-line. É cedo ainda para falar disto, mas posso dizer que temos uma interessante carteira e com um longo historial de trabalho em parceria. A juntar a isto estamos também em new business. Aproveito o espaço para – passo o pleonasmo – desafiar os marketeers a desafiarem-nos.
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M&P: O que é que a 004 pode oferecer de diferente a uma marca, face às restantes agências instaladas do mercado? Há realmente interesse por uma “boutique criativa”?
JGA: De diferente podemos oferecer tudo. Em primeiro lugar todas as marcas que trabalhamos têm o mesmo nível de prioridade, o mesmo carinho e a mesma dedicação da nossa parte. Eu estou envolvido em todo o processo, gosto de envolver os clientes na criação, temos tempo para os ouvir e o contacto é feito sempre que necessário directamente com os decisores criativos. Temos menos intermediários e por isso somos mais rápidos e diria que melhores. Em segundo lugar não temos a pretensão de achar que conhecemos uma marca melhor do que os profissionais de marketing que a trabalham diariamente. Na 004 queremos trabalhar ao lado das marcas, sem ter o tique e a arrogância de pensar que estamos muito à frente em relação a elas. Em terceiro e último, não vendemos tretas. O nosso trabalho é ter grandes ideias e que sejam efectivas nos resultados que tragam para as marcas. Os nossos orçamentos não têm, nem nunca vão ter, alíneas esquisitas sobre as quais o cliente não sabe o que está a pagar. Quanto ao interesse pelas boutiques criativas, é um facto que estão na moda em todo o mundo e Portugal certamente não é excepção. Não sei é se as agências instaladas têm interesse em que apareçam novas agências a porem em causa a sua suposta superioridade criativa e “estratégica”.
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M&P: Em termos internacionais ou locais, que “boutiques criativas” podem servir de inspiração para a 004?
JGA: Há vários exemplos a nível internacional. A que mais me identifico é a Pereira & O’Dell, que foi uma agência que vingou quer em negócio, e que trabalha, por exemplo Intel, Coca-Cola, Dell, Skype e Uber, quer ao nível de prémios, já que a AdAge nomeou-a 2015 Stand Out Advertising Agency of the year. Paralelamente o PJ Pereira é ele mesmo um revolucionário. É um programador que virou copy, é um criativo digital que há anos que diz que não faz sentido falar de digital e é o pioneiro do brand entertainment.
“Os marketeers começaram a dirigir-se às agências para comprar criatividade e no balcão encontraram alguém com a filosofia de um vendedor de bomba de gasolina”
M&P: Pela sua experiência na Nylon e na BAR, acha que os clientes estão mesmo interessados no potencial das ideias? Há margem no mercado para arriscar?
JGA: Quer na Nylon quer na BAR tive a oportunidade de levar para a frente grandes ideias. Há cada vez mais margem para arriscar. Este risco tem é que ser partilhado entre o anunciante e a agência, por isso é que a co-criação é tão importante. Não se pode arriscar só porque sim, só para fazer uma coisa maluca – a criatividade tem que estar alinhada com a estratégia da marca, só estando alinhada é que não corre o risco de se tornar refém da mesma.
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M&P: Durante pouco mais de um ano foi director criativo da Nylon. O que o levou a ficar tão pouco tempo na agência?
JGA: Quando fui para a Nylon prometi a quem me contratou que ia fazer da agência uma referência do ponto de vista criativo em Portugal. Desde sempre pensei que esse processo demoraria 2 ou 3 anos a tornar-se realidade. Em apenas um ano a Nylon ganhou 29 prémios nacionais e internacionais de criatividade, contando só com os trabalhos criados com a minha direcção criativa. Fomos Agência do Ano nos Prémios de Comunicação Meios & Publicidade, os trabalhos que criámos foram notícia em todo o mundo e a Nylon tornou-se indiscutivelmente uma das referências criativas nas novas agências de publicidade em Portugal. Obviamente que não consegui tudo isto sozinho, foi um trabalho de toda a equipa. Mas a verdade é que um ano após a minha entrada o objectivo estava cumprido. Não sou um profissional de se acomodar e ficar parado. Por isso é que decidi sair e comunicar essa decisão ao CEO da agência. Precisava de um novo desafio, onde tivesse um papel mais activo na definição da filosofia e dos processos da agência. Aproveito para referir que a Nylon e o seu CEO sempre se comportaram exemplarmente ao longo deste processo.
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M&P: Pouco tempo depois de sair da Nylon, o grupo YoungNetwork anunciou que iria deixar a estrutura accionista da agência. Existe alguma relação entre estes dois factos?
JGA: Penso que não. Respondi sempre directamente ao CEO da Nylon e nunca tive nenhuma reunião ou qualquer tipo de contacto com os decisores da YoungNetwork.
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M&P: Quando entrou para a Nylon era logo um objectivo inicial coloca-la na rota dos prémios e dos festivais? Pretende fazer o mesmo na 004?
JGA: Entrei para a publicidade como gestor de redes sociais na BAR, passados uns meses ganhei um Ouro e uma Prata nos Young Lions e virei copywriter. Para mim os prémios sempre foram um objectivo e também o resultado do bom trabalho criativo que tentei sempre desenvolver – não só na Nylon como também na BAR. Acredito piamente que os prémios são um bom barómetro do potencial criativo das agências. Por isso mesmo serão obviamente uma aposta da 004 a médio prazo.
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M&P: Teve outras ofertas em cima da mesa antes de avançar para a 004?
JGA: Tive algumas propostas em Portugal e fui sondado no Brasil. Por uma questão de decoro não vou falar sobre essas propostas, seria deselegante da minha parte e não acrescentaria nada a esta entrevista. Posso apenas dizer que sempre quis ficar em Portugal e lutar por este mercado. Acredito mesmo na criatividade portuguesa feita em Portugal.
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M&P: Foi cinco vezes premiado nos Cannes Young Lions Portugal, duas delas com ouro e tem mais de 70 prémios em festivais nacionais e internacionais. Considera-se um dos criativos-estrela da sua geração?
JGA: Para ser criativo-estrela em Portugal teria que trabalhar em Londres, Reykjavik ou São Francisco. Em 2015 fui jurado no FIAP (México), FIP (Buenos Aires), El Ojo (Buenos Aires), Creativity International Awards (Louisville), AME Awards (Nova Iorque) e New York Festival. Na última semana fui convidado para ser jurado em mais dois festivais internacionais, um dos quais novamente em Nova Iorque e outro na Europa. Sabe de quantos prémios fui jurado em Portugal? Apenas dos jovens criativos do Eurobest… Isto para dizer que esse conceito do criativo-estrela infelizmente já não existe em Portugal. Embora sinta, isso sim, reconhecimento do meu trabalho por parte dos clientes, alguns colegas e dos media da área. Isso é o que realmente importa.