Pedro Durães
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Ser verde está na moda. Não há qualquer novidade contida nestas palavras. Com o crescendo de preocupações em torno de questões como o aquecimento global, as alterações climáticas ou a preservação das espécies e da biodiversidade do planeta, temos vindo assistir a um boom de empresas e produtos que se dizem verdes. O chamado marketing ambiental é uma realidade e não há praticamente nenhuma empresa que não reconheça os benefícios directos de se apresentar aos consumidores nestes moldes. Mas, com consumidores cada vez mais informados e exigentes, não basta transparecer ser verde. É preciso sê-lo. Com mensagens verdadeiras e consistentes. Sob pena de ver aquilo que é hoje uma poderosa ferramenta de marketing transformar-se num verdadeiro tiro no pé que pode deixar a imagem de uma empresa coxa durante um longo período. Foi com isso em mente que o Departamento para o Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Department for Environment, Food and Rural Affairs) do Reino Unido decidiu avançar com o documento Guidance on Green Claims – How to Make a Good Environmental Claim, que pretende “promover o uso de claims ambientais claros, precisos e relevantes no marketing e publicidade”. O documento, que não tem qualquer carácter vinculativo ou força de lei, assume-se como um guia para ajudar as organizações e empresas a produzir mensagens publicitárias ambientais com eficácia e robustez, partindo do princípio que uma má mensagem ambiental pode ter consequências negativas não só para as empresas que as veiculam mas também para o seu meio envolvente. “Informação confusa, falsa, sem significado ou pouco clara pode levar os consumidores a perder confiança nos claims ambientais em geral, gerar competição desleal e desencorajar as empresas de fazer claims verdadeiros”, pode ler-se na introdução do documento recentemente disponibilizado online. Nesse sentido, o objectivo passa por traçar os princípios que as empresas deverão ter em consideração quando avançam para a comunicação de marketing e publicidade em torno de uma imagem verde, quer para os seus produtos ou serviços, quer para a imagem institucional da própria organização. Apesar de ter sido produzido no Reino Unido, o documento que o M&P agora sintetiza encontra-se alinhado com códigos internacionais. Além de se encontrar em linha com os padrões ambientais internacionais expostos no documento ISO14021 (de 1999), o relatório teve em consideração o Código Britânico de Publicidade, Promoção de Vendas e Marketing Directo, com o Guia para Claims Ambientais da Comissão Europeia e com as indicações da Directiva da União Europeia para Práticas Comerciais Desleais.
O conteúdo do claim
Este é o ponto de partida para uma boa comunicação de marketing ambiental. Sem um conteúdo sólido, dificilmente uma marca conseguirá ter uma imagem verde credível. Segundo o documento, antes sequer de se pensar no conteúdo é fundamental que o marketeer domine totalmente o impacto ambiental da marca e dos produtos ou serviços que representa do ponto de vista ambiental. É preciso compreender na sua totalidade o impacto ambiental que a empresa representa. Só assim o marketeer poderá efectivamente ser capaz de identificar quais os tipos de mensagem que são mais relevantes para o produto em causa e para o interesse do target. Isto vai ajudar ainda a perceber até que ponto se poderá afirmar que as acções da empresa contribuem para a diminuição desse impacto. A partir daqui, há que ter em conta a produção do conteúdo da mensagem, que tem de obedecer ao requisito fundamental de clareza. “Ter um conteúdo claro vai colocá-lo numa posição privilegiada para comunicar e tirar partido daquilo que a empresa alcançou em claims ambientais credíveis e relevantes”, indica o documento. Para isso é referida a necessidade de colocar três questões. A primeira pretende determinar se está a ser considerado o impacto ambiental total do produto, serviço ou organização, ou seja, evitar cair no erro de algumas empresas que asseguram que os seus produtos são verdes mas que, analisado todo o ciclo de vida do produto, se verifica ser uma afirmação que não corresponde à realidade. A ASA (Advertising Standards Authority) suspendeu recentemente um anúncio da Renault, que promovia a nova geração automóvel “zero emissões” da marca, estando na base da suspensão queixas que apontam no sentido de um claim falso ou, pelo menos, parcialmente falso já que a afirmação não terá considerado todo o ciclo de vida, desde o fabrico à solução de fim de vida, dos automóveis. Nesse sentido, o guia do Departamento para o Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais aconselha a ter em conta, na elaboração do claim, uma análise da performance geral do produto. No caso de o claim considerar apenas um aspecto do produto e não a sua performance geral, será muito mais eficiente para a marca deixar bem claro que se está a falar apenas de um aspecto. A segunda questão prende-se com a relevância da mensagem, isto é, se o impacto ambiental referido é verdadeiramente importante e se tem importância para o core business da empresa e para os interesses do target a que aponta. O que o documento pretende com isto é dizer que é preciso perceber o tipo de claim que mais se adequa a cada produto específico e sublinha a importância de comunicar as acções que têm grandes impactos e não os pequenos passos. Uma terceira e última questão, no que respeita ao conteúdo, tem a ver com ter a certeza de que aquilo que está a ser comunicado vem trazer algum benefício adicional para além do que já está a ser feito. Um exemplo característico deste tipo de erro é ver uma marca garantir que os seus produtos não utilizam um determinado componente prejudicial ao ambiente quando, na realidade, esse componente já não se encontra associado ao produto há algum tempo, normalmente por outra razão.
Comunicar o claim
Aqui, o ponto mais importante é a clareza daquilo que passa para o consumidor. “Apresentar os claims de uma forma precisa, clara, específica e sem ambiguidades vai ajudar a garantir que os consumidores compreendem o significado pretendido. São factores importantes a ter em consideração a quantidade e tipo de informação apresentada, a impressão geral criada pelas palavras e imagens e quão significante é o claim para os consumidores”, aponta o guia do Departamento. Segundo o documento, os princípios basilares da apresentação de um claim são: assegurar que é transmitido de forma verdadeira e precisa para não levar a mal entendidos junto do consumidor; ser claro relativamente ao ângulo e limites que se aplicam aquele claim; utilizar linguagem específica, simples e sem ambiguidades; garantir que o volume e tipo de informação são os mais apropriados; assegurar que as comparações feitas são relevantes e têm sentido; e ter em conta que quaisquer rótulos, símbolos ou imagens utilizados são claros e relevantes para a mensagem.
Precisão: missão cumprida
Trabalhado conteúdo e a forma como o claim é transmitido, resta ainda uma última fase para alcançar uma mensagem de marketing ambiental eficaz. É preciso assegurar a precisão da mensagem. Como é que isto se consegue? De acordo com o guia, é fundamental que o claim possa ser imediatamente comprovado e suportado com provas robustas e/ou cientificamente aceites. Aqui, os princípios a seguir variam consoante o tipo de claim, seja de comunicação de performance ambiental já alcançada, seja de objectivos ou aspirações futuras relativas a essa performance. No primeiro caso, a instituição britânica sustenta que “uma companhia deve ser capaz de sustentar adequadamente qualquer claim ambiental que faça. A informação necessária deve estar publicamente acessível ou disponível a pedido”. O guia sugere ainda que seja feita uma revisão regular para actualizar o claim, uma vez que a sua relevância se vai deteriorando ao longo do tempo, e que o claim possa ser confirmado por organismos terceiros já que os consumidores valorizam informação verificada por organizações independentes. As empresas devem então procurar esse tipo de certificação para assegurar mais força à sua mensagem.
No segundo caso, fazer publicidade sobre as metas futuras de uma empresa no capítulo ambiental pode ser uma estratégia de marketing muito eficaz. Mas é necessário algum cuidado para evitar a confusão junto dos consumidores, é preciso também haver bases sólidas para os claims de futuro. A sugestão traçada pelo guia passa pela monitorização, por exemplo anual, dos progressos da empresa relativamente às metas traçadas. Além disso, é conveniente que o claim de uma meta futura seja realista e alcançável, bem como coerente com a estratégia e esforços da empresa. Um ponto muito importante a ter em conta prende-se com o facto de as metas ambientais serem realmente sentidas como uma parte dos esforços e evolução da actividade da empresa e não como melhoramentos ambientais que já seriam esperados por factores externos à empresa, como uma alteração na legislação. Em relação a marketing ambiental com recurso a planos da empresa para o futuro, o guia publicado pelo organismo britânico deixa ainda uma advertência: “Quando metas transmitidas num claim da empresa não são alcançadas, isto deve ser tornado claro no domínio público; se se chegar à conclusão de que uma aspiração futura não vai poder ser alcançada, seja transparente sobre isso e explique as razões.”
Para além de delinear os princípios a seguir para obter a construção de uma mensagem ambiental eficiente e relevante para uma empresa e para os seus consumidores, o guia dedica ainda uma parte à importância da verificação e confirmação de metas ambientais alcançadas por parte de terceiros. É importante que os melhoramentos no impacto ambiental da empresa sejam reconhecidos por entidades independentes como forma de reforçar a solidez da mensagem. No documento constam ainda algumas linhas condutoras sobre este assunto, fazendo referência a entidades com um papel importante nesta questão e com reputação reconhecida, desde entidades associadas a organizações governamentais, como o Ecolabel da União Europeia, a outro tipo de entidades como o Carbon Trusts Carbon Reduction Label. Este tipo de “rótulos” ou “selos” são uma garantia do claim perante o consumidor, ou seja, toda a mensagem ambiental que é veiculada acaba por ser confirmada e reforçada junto do target, que adquire mais confiança ao tomar conhecimento de que uma organização independente e exterior à empresa reconheceu os seus esforços em prol do ambiente.
– Regras para ser verde
1. Evitar o erro de dizer que o produto é verde quando não corresponde à realidade
2. O impacto ambiental referido deve ser verdadeiramente importante no core business da empresa e para os interesses do target
3. Assegurar que a mensagem é precisa e não leva a mal entendidos junto do consumidor
4. A mensagem tem de ser imediatamente comprovada e suportada com provas robustas e/ou cientificamente aceites
5. Assegurar que as comparações feitas são relevantes
6. O claim deve ser coerente com a estratégia e esforços da empresa
7. O marketeer deve saber tudo sobre o impacto ambiental da sua marca e produtos
8. A informação veiculada deve ser confirmada por organismos independentes