‘Temos de ser um produto de culto’
Depois de Lisboa a Time Out chegou em finais de Março ao Porto. A nova edição da marca e os novos projectos da editora Capital da Escrita são alguns dos temas abordados por João Cepeda, director da revista, em entrevista ao M&P.
Ana Marcela
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Depois de Lisboa a Time Out chegou em finais de Março ao Porto. A nova edição da marca e os novos projectos da editora Capital da Escrita são alguns dos temas abordados por João Cepeda, director da revista, em entrevista ao M&P.
Meios & Publicidade (M&P): Depois de Lisboa, o Porto era o destino inevitável para a Time Out? Porquê só agora?
João Cepeda (JC): Lançámos antes do tempo previsto. Pensámos lançar um segundo título ao fim de cinco anos. Temos o Porto ao fim de dois anos e meio da revista de Lisboa. É um prazo muito curto e prende-se com duas razões: os bons resultados da revista de Lisboa, que superaram as nossas expectativas sobretudo neste ano e meio, e o movimento em torno de toda a actividade cultural do Porto, que de facto justificava que a Time Out entrasse neste momento. Ao fim de dois anos e meio termos lançado a segunda revista, e tantos spin-off ao longo deste tempo, prova que não temos parado e não nos conformámos em ter uma revista semanal.
M&P: Porquê mensal, então?
JC: Não é por não haver actividade cultural no Porto, nem pelo potencial de leitores que podíamos ter lá, mas sobretudo pelo mercado de anunciantes. Neste momento tão delicado no mercado, apesar de termos um bom produto, fazer algo demasiado ambicioso, um passo a mais, pode ser a queda do artista.. Entrar num mercado como o Porto, ainda mais pequeno que o de Lisboa, exige ainda mais cautelas.
M&P: Arrancaram com 14 mil exemplares de tiragem. Quais são os objectivos de venda?
JC: Há muitas experiências recentes de títulos que chegaram ao mercado, anunciaram objectivos fantásticos e depois nunca chegaram lá. Esses exercícios de futurologia às vezes são graves tiros no pé. Estamos muito satisfeitos com as vendas em Lisboa – depois de estabilizarmos nas cinco, seis mil revistas por semana, hoje em dia já estamos entre as oito e as nove e tenho esperança que no final do ano cheguemos às 10 mil revista. E isto sem vendas em bloco, sem truques na manga. É tudo venda pura, na banca . No Porto é complicado saber. É uma revista mensal, as mensais por regra são mais partilhadas do que as semanais… Se vendermos cerca de cinco mil exemplares será bom. O plano está preparado para metas muito modestas.
M&P: Em Lisboa cresceram no ano passado 14,76 por cento face a 2008, para 6.336 exemplares de média de circulação paga. Dez mil exemplares, diz, é o objectivo para este ano.
JC: Crescemos tanto nas vendas como em publicidade. O nosso objectivo nunca poderá ser chegar aos números de uma Visão ou de um título semanal de grande difusão. Não somos generalistas, somos um produto de nicho em termos temáticos, geográficos, sociais e até em termos de idade (o nosso target começa à volta dos 25 anos é a partir daí que nos começam a ler mais pessoas). A nossa aposta é na qualidade, mesmo em termos de leitores. Se conseguirmos manter este nível de leitores, se fizermos a extrapolação normal em termos de audiências, é muito bom, porque significa que em Lisboa no target A/B não haverá muito mais gente do que a que estamos a atingir.
M&P: São números suficientemente atractivos para os anunciantes?
JC: É como a publicidade hoje em dia no iPhone. Há pouca gente que tem um iPhone, mas as pessoas que o têm interessam aos anunciantes e a utilização que dão ao iPhone também. Connosco passa-se a mesma coisa. Atingimos um número de pessoas que já é atractivo para eles, conseguimos chegar a essas pessoas de uma forma muito mais eficaz, acho, do que o resto dos media tradicionais em papel. Não quero como objectivo vendermos 20 a 30 mil. Temos de ser um produto de culto.
M&P: E esse produto de culto gera receita suficiente para garantir a sustentabilidade do projecto?
JC: Hoje em dia dá lucro, não é só uma questão de gerar dinheiro para a sustentabilidade. Não paga só as despesas correntes que são altas – este é um produto que ao contrário de outras revistas precisa de muita gente para ser escrito. Temos em termos de recursos humanos grandes necessidades e com Lisboa e Porto temos uma equipa já com 50 pessoas, 50/50 entre quadros e colaboradores fixos. Agora gera receita suficiente, porque os anunciantes confiam em nós, sabem que chegamos às pessoas de forma eficaz, provam-no através dos eventos que organizamos, procurados por milhares de pessoas, pelas redes sociais, são 25 mil fãs, o Porto tem quatro mil fãs e conseguiu-os em quatro dias. Ninguém tem esse tipo de relação com os leitores. O melhor exemplo para que as pessoas tenham noção da nossa força é comprarem a revista à quarta-feira, ver uma crítica positiva a um restaurante e ir ao restaurante nessa noite.
M&P: Referiu a ligação com as redes sociais. Pensam lançar um site para a edição do Porto ou no online a relação com os leitores passa mais pelas redes sociais?
JC: As redes sociais não anulam a função de um site. Nunca foi a nossa aposta até ao momento um site, nem de Lisboa, nem do Porto. Tínhamos um percurso a percorrer no papel que tinha a ver com os spin-off que fomos fazendo. Estamos lá desde o início mas admitimos que não é a nossa jóia, ainda. Até agora não era uma aposta, mas não podemos esperar mais e hoje em dia quem fala em site não fala só em site, a parte online já inclui muitas outras coisas, sobretudo a parte móvel.
M&P: Vamos ter a Time Out no iPhone?
JC: Vamos ter a Time Out nos telefones de certeza, por onde se vai começar não sei. Mas outra prova dos nossos bons resultados é que toda a gente nos veio convidar para estar ai.
M&P: Refere-se à Optimus, Vodafone, TMN?
JC: Aos agentes do sector de um modo geral. Acho que até ao final do ano vai haver novidades de certeza absoluta.
M&P: Fazem venda de conteúdos a terceiros, caso do I. Vão desenvolver essa área de negócio?
JC: Não é o nosso core. Não compramos a terceiros de certeza absoluta, fazemos tudo de raiz e de facto temos um banco de informação que é interessante para muitos órgãos de comunicação social, mas como digo não é o nosso core. Propostas podemos considerar, e já consideramos, mas não é estratégico.
M&P: Depois do Porto o que se segue?
JC: O Porto é uma grande aposta em que vamos investir muito. Depois disso há mais projectos paralelos em que investimos e nos dão muito gozo: o Lisbon for Visitors, que é um grande sucesso, uma revista anual para miúdos, o suplemento do Algarve que já envolve produção local e temos também algumas novidades. Algumas marcas contactam-nos para fazermos alguns produtos direccionados sobre eventos culturais ou grandes eventos. É uma questão de ver o que vem aí e ao que podemos estar associados. Há também muitas propostas de parcerias para televisão – estamos no arranque do Q a fazer uma pequena rubrica semanal, como fazíamos na SIC Mulher – e rádio. Vamos lançar daqui a muito pouco tempo o Guia de Restaurantes. É o nosso maior investimento em termos financeiros, todos os restaurantes foram criticados. Vamos lançar em livro os guias turísticos da Time Out com a Leya. É provável que no próximo ano, se a revista do Porto correr bem, alguns destes projectos se possam fazer no Porto. Depois há o online e muitas ideias que estão a ser estudadas. Temos projectos muito arrojados para o futuro, porque isto tem-nos corrido bem, mas só vai continuar a correr-nos bem se continuarmos a arriscar e a inovar.