‘O preço médio dos meios em Portugal está a subir’
Em Janeiro, arrancou uma nova unidade dentro do Group M dedicada exclusivamente ao search marketing. Mas no último ano ocorreram mais alterações no grupo de meios que concentra a Mediaedge:cia, Mediacom e Mindshare.
Pedro Durães
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Em Janeiro, arrancou uma nova unidade dentro do Group M dedicada exclusivamente ao search marketing. Mas no último ano ocorreram mais alterações no grupo de meios que concentra a Mediaedge:cia, Mediacom e Mindshare. O Group M conta desde o ano passado com uma nova agência de meios, a Maxus, e destinou a Publimeios apenas a negócios locais. Em entrevista concedida ao M&P, José Dias Pinheiro, CEO do Group M, explica os negócios do grupo e traça ainda uma previsão sobre o mercado de meios para 2010, tocando a questão das medições em televisão. Sobre a esperada associação das agências de meios, que continua sem avançar, o responsável pelo grupo escusa-se a avançar pormenores. “O que lhe posso dizer é que as agências de meios, enquanto conjunto, estão completamente activas, atentas e intervenientes naquilo que se está a passar no mercado em Portugal. Não estão longe desses acontecimentos, não deixam de tomar posições colectivas quando as têm de tomar. Mais do que isto não quero falar para já”, diz.
Meios & Publicidade (M&P): O grupo tem uma nova empresa, a Search Marketing. Como é que surgiu esta nova unidade de negócio?
José Dias Pinheiro (JDP): Nós comprámos a empresa, que se dedica ao search e que existia há dois ou três anos. Concluímos a aquisição no final do ano passado e a empresa está a operar connosco desde Janeiro. Era uma empresa local que passa agora a estar inserida dentro da oferta do grupo, que se dedica exclusivamente ao search e se assumiu como uma opção para reforçar a oferta do grupo em Portugal. Eles já estavam a trabalhar connosco enquanto fornecedores há cerca de um ano e agora são uma empresa do grupo e apoiam a oferta de cada uma das nossas unidades. É uma empresa inteiramente dedicada ao search marketing. Portanto, actua na área de search engine optimization, ou seja, optimização de sites para que sejam eficientes nos motores de busca, e do search marketing propriamente dito, isto é, optimização dos conteúdos para que os sites tenham visibilidade e favorecer aquilo a que se chama, nos motores de busca, pesquisa natural.
M&P: Foi uma aquisição da totalidade do capital?
JDP: É uma aquisição praticamente a 100 por cento, mantém uma percentagem nos sócios locais durante algum tempo com opção de compra nossa.
M&P: Que balanço faz, para já, deste início de operações?
JDP: É uma área onde queremos liderar e o balanço é totalmente positivo. Estamos ainda no início da operação em conjunto, apesar de já haver um ano de trabalho em comum. É uma área que consideramos muito importante para o futuro e onde a nossa oferta tem vindo a crescer ao longo deste último ano, pelo que é uma aposta do grupo.
M&P: Estando já a trabalhar com esta empresa há um ano, o que motivou o grupo a avançar para a aquisição?
JDP: A alternativa era criar a competência internamente e nós, por uma questão de velocidade e de competência das pessoas, decidimos enveredar pelo caminho da aquisição. Esta área de negócio é fundamental e está claramente a assumir uma importância relativa muito grande. O grupo optou por fazer um forte investimento nesta área. Em alguns países o crescimento foi orgânico e noutros foi feito através de aquisições, que foi o caso em Portugal.
M&P: Como é a estrutura actual desta unidade?
JDP: Tem 17 pessoas, com um director executivo que é o Ricardo Freire dos Santos.
M&P: Qual foi o investimento envolvido nesta aquisição?
JDP: Não quero adiantar esse tipo de pormenores. Não é o mais relevante aqui. O mais relevante é que, em todas as áreas ligadas ao digital, queremos liderar nos próximos anos. Este investimento foi feito de uma forma muito calma e serena, e há mais alguns em curso. Todas as empresas locais nesta área são relativamente pequenas pelo que os investimentos não são o aspecto significativo deste negócio. Não estamos a comprar nenhum gigante. Estamos apenas a aumentar a nossa capacidade de oferta nesta área que consideramos importante.
M&P: Quais são as expectativas para este primeiro ano de operação?
JDP: São boas. É um sector que está em franca evolução e, portanto, a expectativa é de que haja efectivamente esse reforço na nossa oferta e que a qualidade dessa nossa oferta seja reconhecida pelos nossos clientes. Não vou adiantar nada relativamente a volume de negócios. O que lhe posso dizer é que os investimentos na área digital em Portugal rondam os cinco por cento, talvez mais um pouco nesta altura, com mais ou menos peso em cada um dos grupos. Não estamos a falar ainda de dimensões superiores a este valor. A tendência desta área é o crescimento. Portugal está ainda um pouco atrasado relativamente a outros países da Europa, mas é natural que os investimentos na área do digital venham a crescer e a assumir um peso maior. Neste caso, estamos a falar de uma empresa que vai trabalhar na plataforma internet, que tem um peso que não excede os cinco ou seis por cento do investimento publicitário. Mas todo o mercado e plataformas vão digitalizar-se, talvez com excepção do outdoor, pelo que o sentimento de necessidade existe por parte de todas as agências.
M&P: Ao nível de estrutura e clientes, esta unidade está a ter algum tipo de sinergia com as restantes empresas do grupo?
JDP: Está a trabalhar os clientes que já tinha antes da aquisição e conjuntamente com cada uma das nossas agências de meios porque o search só faz sentido se for trabalhado de uma forma integrada. Portanto, está a reforçar a oferta de cada uma das nossas agências.
M&P: Falou há pouco no crescimento do digital. Ao nível do grupo, quais são as perspectivas para este ano? Em que áreas vão apostar mais?
JDP: O Group M vai crescer este ano no seu todo, mas naturalmente vai crescer mais nas áreas digitais do que nos meios tradicionais. Na área digital crescerá seguramente a dois dígitos, em termos globais não crescerá mais do que aquilo que o mercado crescer, que poderá rondar os três por cento. Ao nível do investimento estamos a apostar claramente em reconverter e reforçar a nossa oferta na área digital.
M&P: Está a ser ponderada a abertura a novas áreas de negócio este ano?
JDP: Vai passar muito pelo reforço das áreas de negócio que já temos. Quanto a outro tipo de projectos é prematuro falar. Claro que um grupo desta dimensão tem sempre várias coisas a andar, as coisas vão acontecendo de uma forma natural, as negociações com parceiros demoram sempre mais tempo do que se espera… Mas será tudo no sentido de reforçar a nossa oferta e a nossa posição no mercado, que é já uma posição forte e que precisamos de manter e reforçar.
Estratégias para a Maxus e Publimeios
M&P: Relativamente à questão do surgimento da Maxus e do fim da Publimeios…
JDP: Maxus e Publimeios são dois assuntos que nada têm a ver um com o outro. A Maxus é a quarta marca global do grupo. A razão pela qual este grupo tem várias marcas globais tem a ver com a gestão do portfólio de clientes porque entendemos que não podem coabitar na mesma agência clientes que operam no mesmo sector, com as mesmas necessidades, sem que isso implique uma equipa totalmente exclusiva. A Maxus vem responder apenas a isso. Com o crescimento que tem tido nos últimos anos, o grupo viu-se obrigado a criar mais uma operação global. A Maxus nasceu em Portugal quando ganhou internacionalmente o grupo Fiat e depois cresceu, fez o seu caminho, criou o seu posicionamento, fez um ano de 2009 muito bom apesar de ser um ano de arranque. Já está presente num número significativo de países.
M&P: O arranque da Maxus em Portugal não coincidiu com o fim da Publimeios?
JDP: Não, a Publimeios não chegou nem vai chegar ao fim. O que acontece é que estes grupos, por razões históricas ou por razões tácticas, podem por vezes ter pequenas operações locais. E é isso que se passa com a Publimeios. É uma operação local, com uma vocação claramente local. A Publimeios continua perfeitamente activa, continua a fazer parte do grupo e a ter os seus clientes. Até haver uma decisão em contrário que não está prevista.
M&P: Mas deixou de constar no organigrama do grupo.
JDP: Não consta. A empresa existe mas, enquanto grupo, não damos visibilidade às operações locais. A Publimeios é, historicamente, uma empresa muito vocacionada para trabalhar com pequenas agências criativas. O seu tipo de negócio é mais este, que já existia antes da criação do próprio Group M, e mantém-se assim, não tendo como objectivo concorrer com as outras agências de meios. É uma operação muito local, tem um posicionamento muito forte nesse sentido, e a nossa opção é não dar visibilidade porque o Group M dá visibilidade às quatro marcas globais.
M&P: Referiu que foi um bom ano de arranque para a Maxus. Já tem um peso significativo no grupo?
JDP: Ainda não tem um peso muito significativo, só começou a operar em Fevereiro do ano passado, mas já tem alguns clientes interessantes como o grupo Fiat e o Lidl. Acabou por fazer um ano de arranque muito positivo. A Maxus tem uma equipa muito sénior, não é uma equipa que tenha nascido ontem nem foi nada construído à pressa e sem bases. O nosso objectivo, sendo um grupo global, é servir os nossos clientes de uma forma muito próxima da excelência e isso foi conseguido. Tudo o resto que venha é ganho.
M&P: Antecipa um ano mais difícil do que o último ou prevê um início de retoma?
JDP: Não me parece que seja mais difícil que o anterior mas acho que não podemos falar num início de retoma. Ainda estamos longe de um período sustentável. Vamos passar um período de três a cinco anos ainda complicado, com os investimentos a tender para uma estabilização, mas obviamente que essa estabilização tem razões. Em 2010, por duas ou três razões, é provavelmente um ano de crescimento. O mercado deverá crescer à volta dos três por cento e este deverá ser o crescimento das entidades a operar no mercado. Muito motivado por uma recuperação do preço, provocada pelas televisões, e no segundo trimestre com o Campeonato do Mundo de Futebol na África do Sul, que também reforça um pouco o investimento em meios. Mas não prevejo que este crescimento seja sustentado.
M&P: De um modo geral, qual está a ser a evolução de preços?
JDP: Este ano houve um movimento de retracção, houve um rappel do lado das televisões. Esse movimento foi uma forma que as televisões inventaram e exploraram para puxar o preço em alta de uma forma significativa em 2010. Há uma questão onde, eventualmente, as agências de meios estão mais vulneráveis. Hoje, e sobretudo desde 2008, os clientes forçam as condições de remuneração das agências em baixa. E não acredito que esse processo esteja terminado. Mas também não acredito que se possa ir muito mais longe sem pôr em causa a qualidade do serviço aos clientes. Esteve cá há pouco tempo Martin Sorrell e ele próprio reconhecia que os clientes querem o mesmo por menos, em alguns casos por muito menos, e que isso não é sustentável tendo em conta a natureza do nosso negócio. Mas acredito que o mercado vai encontrar um equilíbrio. Em 2010, o preço médio dos meios em Portugal está a subir, provocado pela subida de preços em televisão. Isto não era expectável em 2009 mas juntaram-se uma série de factores e parece que essa recuperação do preço está a acontecer.
M&P: No que diz respeito às métricas de audiências, considera que a amostragem para televisão está desajustada, com uma subvalorização do cabo/satélite, que começa a ter cada vez mais importância?
JDP: Todas as metodologias que estão a ser utilizadas são reconhecidas e aprovadas pelas partes envolvidas. Por isso, não considero nada. Agora, o dados são o benchmark para a formação do preço e, nessa medida, o importante é que a realidade não seja adulterada. O que se fala hoje sobre a penetração do cabo e a importância que tem na medição das audiências, acho que é uma falsa questão. A forma como deve ser visto o cabo não é comparável. Não podemos tratar aquilo que é a oferta dos canais de cabo, normalmente temáticos, que têm pouca audiência total mas uma grande afinidade com determinados grupos alvo, com aquilo que é a oferta das televisões generalistas porque a função é totalmente diferente. Nem sequer faz sentido comparar audiências, não se está a falar da mesma coisa. Conceptualmente é como comparar dois meios diferentes. O suporte é o mesmo mas a natureza da audiência é completamente diferente. Num tem uma audiência mais massificadora enquanto no outro é uma audiência mais para targeting. Acho que a natureza e a função se vão separar de uma forma absoluta e não faz sentido comparar as métricas. Se as métricas fossem diferentes não se perdia nada. Pelo contrário, ajudava a diferenciar as funções que cada um pode ter, apesar de fazerem parte do mesmo meio. O próprio approach criativo conceptual, se calhar, tem de ser visto de forma diferente porque os meios são diferentes apesar de o suporte ser o mesmo.