Medes tu ou meço eu?
A discussão em torno dos critérios de medição da publicidade online não é nova, mas é um tema ainda mais premente quando se fala de um meio tão dinâmico e em constante mutação como é o caso do online.
Pedro Durães
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A discussão em torno dos critérios de medição da publicidade online não é nova, mas é um tema ainda mais premente quando se fala de um meio tão dinâmico e em constante mutação como é o caso do online. A questão sobre qual a melhor forma de medir o sucesso e eficácia das campanhas de publicidade na internet voltou a ser colocada em cima da mesa na semana passada, durante o evento Creative Confidential promovido pela Microsoft, em Lisboa, com a Microsoft Advertising a lançar um apelo à indústria publicitária no sentido de se passar a adoptar o tempo de permanência como forma de medição efectiva das campanhas de marca digitais, relegando o método habitual das taxas de clique (click-through rate ou CTR) e impressões de página exclusivamente para os casos em que se trata de campanhas de resposta directa. Para os responsáveis da Microsoft Advertising, desenvolver campanhas capazes de maximizar o tempo de permanência é o caminho para alcançar bons resultados nas campanhas de publicidade online. Na base do apelo por parte da empresa norte-americana, que não hesita em classificar esta forma de medição como a melhor para avaliar campanhas, esteve o estudo Dwell on Branding conduzido pela própria Microsoft em colaboração com a Eyeblaster. O estudo, que incidiu sobre 20 campanhas de publicidade online na Europa (10 com tempos de permanência elevados e 10 com tempos de permanência reduzidos) pelo período de seis meses, combina dados da Eyeblaster e da comScore e analisa as potencialidades do tempo de permanência para a criação de uma marca. “Os nossos dados demonstram que é 25 vezes mais provável que os consumidores despendam mais tempo útil com um anúncio rico em conteúdos multimédia do que a clicar no mesmo. O tempo médio gasto na interacção com este tipo de anúncio é de 53 segundos, o que é praticamente equivalente a optar activamente por visualizar dois anúncios televisivos de 30 segundos, sem intervalo”, referiu Dean Donaldson, director of digital experience da Eyeblaster. De acordo com o estudo, cujos resultados foram apresentados durante o seminário, quanto maior for o tempo de permanência obtido por um anúncio, mais positivo será o comportamento do consumidor relativamente à marca após a visualização do mesmo. Comparando resultados entre o agrupamento de campanhas com maior tempo de permanência e aquelas que registam menor tempo de permanência, o estudo analisou o comportamento dos consumidores após a exposição aos anúncios e conclui que os primeiros registam uma eficácia três vezes superior no que diz respeito ao estímulo de search com base em marcas. Resultados que reflectem uma monitorização de quatro semanas após o visionamento dos anúncios e não apenas em resposta imediata. Segundo números avançados pelo estudo, os consumidores que estiveram em contacto com campanhas com fracos tempos de permanência revelam 12 por cento de probabilidade de vir a fazer uma busca pela marca enquanto nos casos em que viram campanhas que alcançam elevados tempos de permanência esse número chega aos 39 por cento, revelando uma eficácia mais de três vezes superior. Situação que não é tão evidente no que se refere à visita aos sites das marcas, mas que ainda assim regista também um aumento significativo. De acordo com o estudo, as campanhas com elevados tempos de permanência têm uma probabilidade maior em 70 por cento de atrair visitas ao site das marcas e gerar impressões de página quando comparadas com as campanhas de baixo tempo de permanência, números que se reflectem também no tráfego gerado nas páginas, com mais 125 por cento de pageviews e mais 83 por cento de minutos despendidos pelo utilizador.
Mas afinal, como se consegue alcançar uma campanha com elevado tempo de permanência? Neste aspecto, os responsáveis da Microsoft destacam o papel preponderante da criatividade. Mas, para lá desse factor determinante, também o formato e estratégia escolhidos pelas marcas desempenham um papel de destaque, sendo que também aqui o estudo Dwell on Branding aproveita para demonstrar a inexistência de correlação entre as duas formas de medição. Com base nos dados obtidos pelo estudo, “um formato que é eficaz em gerar click-throughs não é necessariamente eficaz a gerar tempo de permanência”, situação que se verifica por exemplo com as faixas de vídeo num site, que geram elevados tempos de permanência (dos formatos testados pelo estudo registam o valor mais elevado) mas com fracas taxas de clique, enquanto os anúncios flutuantes são os que alcançam mais cliques mas correspondem ao formato que gera menos tempo de permanência.
O que dizem os operadores
“À medida que as ferramentas e tácticas de interacção do utilizador evoluem, é cada vez mais notória a necessidade de existir uma forma de medição que avalie adequadamente a forma como o público responde e interage com um anúncio em tempo real. Se se avaliar o êxito de uma campanha de marca apenas com base em cliques, arriscamo-nos a considerar campanhas bem sucedidas um fracasso”, alertou, durante o seminário Creative Confidential, Diogo Marnoto, responsável pela Microsoft Advertising em Portugal. O responsável acrescentou ainda que “ao subestimar o poder dos tempos de permanência, os anunciantes estão a perder uma oportunidade de melhorar o benchmarking do meio online em relação à televisão, à rádio e às publicações impressas”, assegurando que “o tempo de permanência constitui uma medida extremamente precisa do tempo despendido na interacção activa com um anúncio e, nesse sentido, é semelhante às tradicionais oportunidades de visualização utilizadas noutros meios. Por este motivo, é muito mais fácil de compreender e avaliar por parte das direcções de marketing”.
Quererá isto dizer que a medição através de CTR deveria ser abandonada pelos operadores? Ou este continua a ser um método de medição válido? “O online é um meio agregador de meios, com conteúdos em texto, vídeo e áudio, por isso não existe uma única medida mas sim um conjunto de medidas de retorno publicitário. O CTR ainda é um indicador de performance válido e útil, sobretudo quando falamos de formatos standard. O utilizador de internet tem comportamentos diferentes consoante os sites ou aplicações que visita”, refere Bernardo Rodo, managing director da OMG Digital. Também Jorge Laranjinha, director-geral da Creative Partner, considera que a utilização desta métrica não deverá ser abandonada: “O CTR é uma medida actual e irá permanecer mas sempre em paralelo com outras. Para algumas campanhas será a unidade de medida mais adequada, enquanto noutros casos não deve ser usada. Por exemplo, uma das principais utilidades do CTR é avaliar a qualidade das peças criativas e, com esta medida, podemos ter uma percepção se estamos no caminho certo ou não. Este facto nunca deixará de ser válido.”
Relativamente à questão de se adoptar uma única métrica para online, os operadores ouvidos pelo M&P não reconhecem este como sendo o caminho adequado. “O mercado não deve convergir para uma única unidade de medida mas sim disponibilizar várias unidades para que os clientes tenham ao seu dispor as que melhor respondem aos seus objectivos. A tentativa de indexar todos os meios ao custo GRP é um erro, o mercado está a mudar e, em vez de se tentar colocar variáveis usadas no passado nos novos meios, devemos repensar as variáveis do passado e aprender com estes novos meios. O mundo está a mudar nesta área e, como tal, as medições devem acompanhar as mudanças”, defende Jorge Laranjinha. Bernardo Rodo, por seu turno, alerta para o facto de que “centrar a discussão no CTR é redutor, pois é apenas um dos indicadores de eficácia. Naturalmente que a exposição ao banner, e aqui falamos ainda de formatos standard, contribui para a notoriedade da campanha, mesmo antes do clique. Comprovamos este efeito com o aumento de visitas a um determinado microsite de campanha em utilizadores que viram a criatividade, não clicaram, e foram mais tarde ao site através de um motor de pesquisa”. “Quando falamos de formatos ricos em conteúdos (rich media, in-streaming) o tempo de permanência ganha maior relevância. Isto porque estes formatos foram concebidos para fazer chegar o conteúdo ao utilizador sem que este tenha necessariamente de clicar para conhecer a proposta da marca”, acrescenta.
Questionado sobre se concorda com a proposta e apelo lançados pela Microsoft Advertising, que defende a utilização do tempo de permanência como métrica mais adequada para a publicidade online, relegando o CTR para a medição apenas de campanhas de resposta directa, Jorge Laranjinha é peremptório: “Não concordo com nada que diga a alguém qual o caminho a seguir. Todas as variáveis são úteis mas nunca únicas. Essa variável sempre foi usada no meio digital para as campanhas em que ela seja importante, mas nunca como unidade única de medida. É uma medição válida para algumas campanhas que tenham como objectivo uma interacção com o utilizador sem o conduzir para o seu site mas noutros casos pode não ser esse o nosso objectivo.” Bernardo Rodo lembra que “o tempo de permanência é eficaz e já é utilizado para formatos ricos em conteúdos, sobretudo porque estes formatos, mais intrusivos, foram concebidos com esse objectivo, efeito que se reflecte no próprio preço do espaço”. Mas aponta também aqui o facto de que “este critério é redutor e não pode ser isolado de outros critérios igualmente válidos, até porque o tempo de permanência não permite ainda avaliar com eficácia o banner standard, menos fun, mas que continua a ser um formato com resultados comprovados. O CTR é a primeira linha de análise da resposta directa, antes da conversão, mas continua a ser útil para outros objectivos, até porque existe um efeito de notoriedade que é muitas vezes descurado numa análise demasiado restrita de resposta directa.” Para Jorge Laranjinha há uma parte da proposta que não faz sentido, quando se fala em relegar o CTR para medição de campanhas de resposta directa. “O CTR não pode ser visto como avaliação de campanhas de resposta directa, para isso existem outras variáveis mais importantes. E esta medida é também útil noutros contextos. Temos um exemplo da utilidade desta medida na avaliação, por exemplo, de peças criativas ou formas de comunicar com os utilizadores”, aponta.