Pequenos anúncios, (mais) pequenas receitas?
Em dez anos as receitas de classificados caíram 70 por cento na imprensa norte-americana.
Ana Marcela
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Em dez anos as receitas de classificados caíram 70 por cento na imprensa norte-americana. Ano a ano a fatia de receita foi sofrendo os efeitos erosivos da migração para o online e do surgimento de projectos que disponibilizam os anúncios de forma gratuita, passando de um total de 19,6 mil milhões de dólares, para pouco mais de seis mil milhões de dólares, segundo dados do estudo State of News Media. O ano passado não fugiu a esta tendência no mercado norte-americano, como dão conta os números da Newspaper Association of America: Num ano as receitas caíram 38,1 por cento, para 6,17 mil milhões de dólares. Um cenário de descida que também atingiu os classificados online. Também no mercado dos Estados Unidos as receitas no online caíram no seu todo 3,4 por cento, para 22,7 mil milhões de dólares, e na área de classificados sofreram uma redução de 29 por cento, passando a representar 10 por cento do total de publicidade online, quando em 2008 tinham uma fatia de 14 por cento, de acordo com o IAB – Internet Advertising Revenue Report.
Em Portugal as receitas efectivas dos classificados não são conhecidas, mas a tendência de quebra é reconhecida. “O mercado de classificados tem tido quebras de receitas a nível mundial e obviamente que Portugal não é uma excepção. A crise económica agravou a situação, essencialmente no mercado imobiliário”, afirma Bruno Saboga, director de classificados multimédia da Controlinveste. “A realidade do grupo Cofina enquadra-se nas tendências referidas”, diz, por seu turno, Paulo Sousa. “De 2008 para 2009, verificou-se uma pequena quebra da procura provocada pela crise económica, fundamentalmente ao nível do imobiliário e do automóvel”, precisa o director de vendas e classificados multimédia da Cofina Media. No Ocasião as áreas mais afectadas pela descida espelham as quebras ocorridas noutros grupos e que se mantêm este ano. A marca, com presença em papel e online, passou de um total semanal de 35 mil anúncios em 2009 para uma média de 24 mil anúncios este ano, sendo que, precisa Helmut Pollinger, responsável da editora, durante o ano passado registou uma quebra de 30 por cento no volume de anúncios na área do imobiliário e de 25 por cento no sector automóvel, embora “no long tail, hobbies e outros [sectores] tenha aumentado”.
“As áreas de emprego e imobiliário estão sempre muito ligadas à performance macroeconómica global. Embora menor que no período 2008/2009, a versão impressa continua a sentir alguma erosão. No entanto, as respectivas versões na internet demonstraram crescimentos sustentáveis e de dois dígitos, o que indica que o marketplace continua a ser dominado pelo grupo Impresa”, refere, por seu lado, Geert Van Hassel, director-geral da Impresa Classificados, área que o grupo, no relatório e contas relativo ao primeiro trimestre, admite ter registado quebras.
A ‘sinergia’ papel e online
Apesar das descidas, ou talvez por isso, os operadores não deixaram de apresentar novos projectos com vista a fixar e impulsionar as receitas deste segmento de mercado. O Tuti é a mais recente aposta do grupo Controlinveste, no qual contou com a consultadoria da CRD Asessores, com quem já tinham trabalhado na área de classificados do Diário de Notícias da Madeira. Lançado em finais de Abril, o projecto, explica Bruno Saboga, funciona como o “agregador das marcas que o grupo detém em imprensa e tem como objectivo principal aumentar o retorno que os nossos anunciantes obtêm do seu investimento. Com uma forte presença na internet conseguimos ter uma audiência distinta da oferta existente no mercado”. Nesta plataforma o anúncio base é gratuito, descreve o director de classificados multimédia, embora o anunciante possa fazer um “upgrade e/ou também anunciar nos nossos jornais”. “Queremos estabelecer laços de confiança com os anunciantes e acreditamos que esta estratégia colherá frutos a médio prazo”, justifica o responsável, que relembra que a oferta de anúncios classificados no online “já é praticada por muitos sites”. A concentração das ofertas de classificados do grupo sob a mesma marca também tem efeitos sobre a plataforma papel, com o caderno de classificados a ser distribuído no Jornal de Notícias, Diário de Notícias (DN) e Global Notícias (GN). Mas será que a sua distribuição no gratuito do grupo não poderá levar a quebras de circulação nos títulos em banca? Afinal, questionamos, ter acesso às ofertas de classificados ainda é motivo para compra de jornais. “O mercado de classificados depende exclusivamente do retorno directo dos anúncios e obviamente que a circulação tem um papel fundamental nesse objectivo”, reconhece Bruno Saboga. “A nossa oferta passou a ser regional, respondendo desta forma às necessidades dos anunciantes. O caderno Sul é distribuído pelo Diário de Notícias e pelo Global Notícias, mas o seu conteúdo não é o mesmo. Cada caderno continua a ter conteúdo exclusivo, sendo que podemos considerar o DN como núcleo dos classificados Sul e o GN um reforço de circulação em determinados sectores de actividade”, clarifica o responsável. Casas, emprego, veículos e relax são as áreas exclusivas do gratuito. Bruno Saboga mostra-se expectante quanto aos resultados desta concentração sob a marca Tuti, considerando que “o aumento de circulação vai ter um forte impacto na visibilidade dos anúncios e esperamos desta forma responder com maior eficácia às necessidades dos nossos anunciantes”, um melhor desempenho que, acredita, poderá aumentar “o nosso share de mercado e consequentemente as nossas receitas”.
Francisco Pinto Barbosa também se mostra optimista quanto à evolução das receitas por via dos classificados, contudo, com apenas seis meses de existência o retorno do site de classificados do Destak é visto a médio-longo prazo. “É expectável que, num prazo de três a cinco anos, o online represente uma fatia importante das nossas receitas”, afirma o administrador da Metro News. A aposta na plataforma internet foi, afirma o responsável, “uma extensão natural da nossa marca” que, relembra, “comunica com um target de leitores jovem, urbano e com poder de compra” cuja “afinidade com o online é elevadíssima”. O portal de classificados é a mais recente face visível dessa aposta, visando “potenciar o retorno dos nossos anunciantes através de uma oferta conjunta online/papel”. “No conjunto das duas plataformas atingimos cerca de 800 mil pessoas. Temos obviamente que cobrar por estes contactos, seja no online, no papel ou no conjunto dos dois. Temos uma política comercial flexível que se adapta aos diferentes tipos de clientes, sendo que a nossa aposta é que o anúncio classificado seja um serviço pago”, frisa Francisco Pinto Barbosa. De Dezembro até ao momento, e apesar de considerar ser ainda cedo para retirar conclusões, o administrador da Metro News faz um balanço positivo do projecto. “A arquitectura da plataforma de classificados tem sido elogiada pelos nossos parceiros e a evolução de tráfego e investimento está de acordo com as nossas expectativas”, refere.
No Ocasião a aposta no online continua com o lançamento de novos vortais temáticos dedicados a carros e animais de estimação, com arranques previstos daqui a três meses, e a emprego “daqui a meio ano”, revela Pollinger.
As novas ameaças e oportunidades
As famosas sinergias entre papel e online parecem já ter sido percepcionadas. “Os anunciantes estão cada vez mais conscientes de que os diferentes canais não são propriamente concorrentes, mas sim complementares”, defende Geert Van Hassel. “Um anúncio impresso será visto também por quem não estiver activamente à procura de algo, mas que está simplesmente a folhear o jornal (‘passive seekers’) e por directores e decisores que queiram ver quem ‘se está a mexer no mercado’ (prestigiante B2B)”, diz. Além disso, os “anúncios na internet dirigem-se sobretudo a quem está activamente à procura (‘active seekers’). No caso de anúncios que não necessitam de atingir os ‘passive seekers’, nem os quadros das empresas, constatamos que existe alguma migração para online”, clarifica o responsável da Impresa.
Paulo Sousa também afirma que as “sinergias são totais” no grupo Cofina, sendo fundamental nesse processo a “excelente imagem e retorno aos anunciantes assegurada pela marca Correio da Manhã”, o que leva a que sendo “uma oferta integrada, não [façamos] diferenciação entre adicionais para o online ou para o offline”, mas o mobile está a começar a reter as atenções dos operadores. No Ocasião já é uma realidade desde meados de Abril, com o lançamento de uma aplicação para o iPhone e Helmut Pollinger não tem dúvidas de que a plataforma mobile “é o futuro dos classificados daqui a uns anos”. Facilidade de upload de fotografias, o contacto mais directo com o anunciante (por via telefone, SMS), permitindo ainda, através da georeferenciação/Google Maps, dar a distância “de onde moramos ao sítio onde se vende o produto” são algumas das características que levam Pollinger a fazer essa afirmação. “Não basta um site de classificados. Este negócio é muito dinâmico e há que pensar noutras plataformas”, argumenta. “Agora em cada rua há um site de classificados. Qualquer miúdo de 16 anos, com programas de open source, pode criar um site”, diz, considerando que “o mercado está muito fragmentado”. A tudo isto acresce o factor redes sociais que, cada vez mais, estão a entrar no campo dos anúncios classificados. Afinal, é sempre preferível comprar à nossa rede de ‘amigos’, ou através das suas recomendações, do que a um anunciante desconhecido, exemplifica Pollinger. Para ‘agarrar’ esta plataforma, a marca criou uma página no Facebook e oferece aos clientes a possibilidade do feed de anúncios estar disponível nesta plataforma. O mobile é outra das áreas em que o Ocasião vai continuar a apostar. Daqui “a um mês” o jornal planeia juntar à sua aplicação para o iPhone uma outra dedicada a smartphones com sistema operativo Google Android, resultante de um trabalho conjunto com a empresa alemã Avus Mobile, bem como, embora ainda sem data de lançamento, uma aplicação para terminais com sistema operativo da Windows/Microsoft.
O entusiasmo com que Pollinger encara a plataforma mobile é vivido com maior contenção nos restantes operadores. “Acompanhamos com atenção os diversos modelos multiplataforma. A decisão de apostarmos num ou noutro modelo está dependente das análises que efectuamos”, declara Paulo Sousa, director de vendas e classificados multimédia da Cofina Media. “Atento” é como está o Destak nesta matéria, já que, como admite Francisco Pinto Barbosa, “a vertente mobile está a ganhar uma importância preponderante nos media e afins. A generalidade dos sites vai ter que ter uma versão mobile mais cedo ou mais tarde”. Um ponto de vista que parece ser partilhado por Bruno Saboga que, quando questionado sobre se o exemplo do Ocasião, marca do grupo Controlinveste, seria extensível a outros produtos da holding, responde: “O mobile é mais uma forma de distribuição de conteúdos e acreditamos que vai ter um papel fundamental no futuro.” E acrescenta: “Em Portugal, o número de smartphones ainda é reduzido mas não temos dúvidas de que este mercado vai ter um rápido crescimento. O potencial é enorme e temos uma estratégia definida nesse sentido que será aplicada a todos os produtos do grupo”, revela, ainda que sem mais detalhes.
Distribuição, distribuição, distribuição parece ser a palavra chave para o futuro do sector, acredita Helmut Pollinger. “Ficar com o conteúdo para nós é uma ideia errada. Temos de distribuir o nosso conteúdo”, defende. Mais do que ter os conteúdos disponíveis em papel ou internet (como áreas exclusivas) para o anunciante, acredita o responsável do Ocasião, o importante é “ter resposta aos anúncios” e se isso acontecer, independentemente da plataforma responsável por essas respostas, “o cliente escolhe o teu canal”.