MIPCOM: 29 horas de Paris até Cannes
Artigo de José António Chagas Machado, em Cannes a acompanhar o MIPCOM
Rui Oliveira Marques
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Em Paris passei à porta de SciencePo para logo depois vir habitar um TGV por um dia… O dia anterior continuou no diurno TGV 6181. E, ao contrário do que escreveu Vinicius de Moraes n’O Dia da Criação: se «a vida vem em ondas, como o mar», «os bondes» não andaram em cima dos trilhos.
As imagens vídeo que vi em Marselha deixam-me triste. O número de mortos em Cannes, 13, e não é certo que não sejam mais.
Do ponto de vista meramente egoísta, depois da viagem que, deveria durar 5 horas de Paris a Cannes em TGV, demorou 25 horas.
Às 17:19, partida da Gare de Lyon, com destino a Cannes. Depois, falha de energia, paragem em Toulon e depois parou quase 6 horas em Carnoules; só às duas e pouco da manhã um funcionário distribuiu pela 1.ª vez uma garrafa de água gelada e pouco depois outro, acompanhado da Proteção Civil, uma caixa de cartão «SNCF Assistance Repas» que incluía «snacks», uma garrafa de água natural, lápis de cor e um livrinho para colorir com passatempos. Às quatro da manhã chegada a nova estação não prevista, Marseille-Saint-Charles depois de hora e meia seguindo em andança contrária; o TGV repousa e quem consegue também. Os funcionários de bordo saíram com seu trolley às quatro e pouco da manhã;
Às 04:26 novos funcionários «de terra» entraram e distribuíram um saquinho com um pente, uma toalhita refrescante, pasta dentífrica em comprimidos, uma venda para os olhos, um par de tampax para os tímpanos (que não coloquei esperando ouvir algum comunicado que não foi feito) e uma «couverture de survie» (um poncho doirado que deverá assentar melhor em mim do que à Conchita Wurst, certamente a culpada pelo dilúvio que atingiu Cannes, como os Balcãs no ano passado…);
Às 6:30 uma funcionária acompanhada da Protecção Civil vem distribuir mais uma caixinha com um pequeno almoço de mais bolachinhas, pacotinho de sumo, um cadinho de fruta em conserva e um chocolate quente em lata francesa «warm-up» de preparação instantânea;
Às 7:30, convidam os passageiros a locomoverem-se para outro TGV que continua parado e onde permanecemos até às 16:07;
Às 12:10, a SNCF continua sem dar informações e uma funcionária distribui nova caixa cartonada, semelhante à que distribuíram há 10 horas com mais lápis coloridos e livrinho para colorir. «Je suis désolé» é dito sem convicção, se é que se pode desejar algo semelhante se não se conhece desconhecidos e a compaixão é só para grande causas;
Às 14:17 um funcionário vem perguntar para onde vou – não sabe nomes, não os pede, apenas conta cabeças para o número total de passageiros em função do seu destino: maioritariamente Cannes, ou a última estação, Nice. — Cannes, claro. #PortugalMIPCOM o stand onde já devia estar para receber um pacote da FedEx…
São 16:07. O segundo TGV não se mexeu; foi apenas uma repositório confortável; pela primeira vez recebemos notícias. Vamos sair…
Às 16:26 embarco num comboio regular que há-de passar por Toulon; a informação dos funcionários era segura: em Toulon teremos um autocarro à nossa espera.
Por volta das 18:00 chegada a Toulon; nenhum funcionário da SNCF tem informações; é preciso falar com o chefe; enquanto espero vou tentar na transportadora regular de autocarros mas não há nenhum autocarro alternativo de Toulon tendo Cannes como destino; da SNCF, a confusão entre os passageiros mas garantem-me que o autocarro vem.
Às 19:13 entro finalmente no autocarro fretado pela SNCF para Cannes e Antibes. Já partiram vários mas apenas para Nice. Continuam a chegar passageiros de outros comboios à espera de um autocarro; estão a abarrotar e não há autocarros para todos.
Às 19:32 o meu autocarro parte. Era suposto seguir directamente para Cannes mas chega às 21:06 a Saint-Raphaël.
Às 21:33 o autocarro precisa de abastecer e para numa estação de serviço E.Leclerc.
Às 22:08, ou seja, 29 horas depois de ter partido de Paris, 24 horas depois das 5 horas previstas, chego a Cannes. Quero agradecer à SNCF por me ter proporcionado esta experiência. Vou guardar o cartão de passageiro frequente com esta memória de recordação.
Artigo de José António Chagas Machado, em Cannes a acompanhar o MIPCOM