“A permanente exigência de transparência já não permite que uma grande organização continue com a informação centralizada”
Joana Garoupa explica os desafios que enfrenta na Galp ao nível da comunicação digital, ao mesmo tempo que defende que é preciso “acelerar a humanização”
Rui Oliveira Marques
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Joana Garoupa explica os desafios que enfrenta na Galp ao nível da comunicação digital, ao mesmo tempo que defende que é preciso “acelerar a humanização”
Em Outubro do ano passado, Joana Garoupa, até então na Siemens, passou a ser responsável pelo marketing e comunicação da Galp. A profissional fala sobre o seu trabalho, que já passou pela escolha das agências para o desenvolvimento da campanha no âmbito do Mundial 2018 (O Escritório), para os social media (Nylon) e para a comunicação (M Public Relations).
Meios & Publicidade (M&P): Assumiu a direcção de marketing e comunicação da Galp, empresa que até aí não tinha essa função. O que mudou desde então internamente?
Joana Garoupa (JG): A Galp, enquanto empresa que se transformou numa multinacional integrada de energia, com soluções em todo o mix energético, tem vindo a ajustar-se face a esta nova visão estratégica. As mudanças na organização, como a criação da direcção de marketing e comunicação, são alguns dos exemplos mais visíveis dessa transformação. Considero-me parte de um movimento que não deve ser analisado caso a caso e que é demasiado recente para permitir algum tipo de balanço. Mas os objectivos são claros: ter uma estrutura que permita comunicar a Galp de forma transversal em todos os mercados em que está presente, aumentar o reconhecimento e notoriedade da empresa, tanto no mercado nacional como no internacional, e reforçar a comunicação das actividades a que a Galp está associada para além das áreas mais directamente relacionadas com as suas operações core. Tudo isto com uma estrutura e lógica de comunicação que resulte num todo interligado e estruturado. E com um foco muito evidente no novo paradigma da comunicação digital: é preciso aproveitar e gerir muito bem a dinâmica de proximidade que os novos canais de comunicação digitais trouxeram, de forma acelerar a humanização que as pessoas exigem de grandes organizações como a Galp.
M&P: Quando assumiu funções declarou que pretendia acompanhar o processo de digitalização. O que queria dizer?
JG: Esse processo de digitalização está precisamente relacionado com este novo contexto de que lhe falava. Olhemos para as redes sociais: o conforto que as pessoas hoje sentem no universo digital e nas redes sociais traz uma disrupção enorme na forma como se organiza a comunicação de uma grande empresa. A permanente exigência de transparência, por exemplo, já não permite que uma grande organização continue com a informação centralizada e compactada num departamento que produz comunicados de imprensa ou comunicados internos, verificados 30 vezes, e enviados depois de aprovação de um superior. Esse tipo de governança é hoje impensável, até pelo ritmo a que tudo acontece. E isso é um grande desafio para as empresas, sejam grandes ou pequenas.
M&P: Em termos práticos, que transformação digital está a ocorrer no marketing e comunicação da companhia?
JG: Em termos corporativos, estamos a dar os primeiros passos, mas há exemplos e experiências muito concretas, já dentro do grupo Galp, do caminho que queremos seguir. O intuito é utilizar as ferramentas ao nosso dispor para estreitar relações com os nossos públicos-alvo – concretamente temos planos de lançar uma app de comunicação interna brevemente, assim como estamos a trabalhar afincadamente numa estratégia de employee advocacy. O lançamento de alguns canais de redes sociais de employer branding e/ou da Fundação Galp, de acordo com uma estratégia de posicionamento digital, é outro sinal do que nos propomos fazer crescer.
M&P: Uma das suas decisões mais visíveis consistiu em convocar concursos de comunicação e de publicidade. Quais os critérios que procura nas novas agências?
JG: Percebo a curiosidade e o interesse da pergunta, mas prefiro não entrar em detalhe neste tema. Vamos querer sempre os melhores parceiros em função do momento da vida da empresa.
M&P: O que traz de inovador a campanha da Galp de apoio à selecção?
JG: O que quisemos com esta campanha foi associar a Galp não apenas ao apoio à selecção – que será comum a todos os portugueses no próximo mês –, mas ir um pouco mais longe: transmitir uma mensagem de apoio a Portugal e aos portugueses. A campanha “Leva Portugal a Peito” reflecte um país que é capaz de brilhar e ter sucesso por todo o mundo, nas mais diversas áreas de actividade. Daí termos convidado oito talentos nacionais que tanto têm contribuído para levar o nome de Portugal mais longe. A Galp está há muitos anos na vida dos portugueses e quer aproveitar este momento de união em torno da selecção para sublinhar, com este orgulho ao peito, que acredita nos portugueses, nas suas convicções e na sua capacidade de fazer bem nas mais diversas actividades.
M&P: Enquanto marketeer, como tem seguido os casos de violência que têm marcado o futebol nacional? Considera que podem prejudicar as estratégias de associação de marcas ao futebol?
JG: Creio que o crescendo de violência, polémicas e suspeitas a que temos assistido no futebol português nos últimos tempos prejudica, em primeiro plano, o futebol e os valores associados. Muitos têm alertado para esse perigo e apelado a que o clima de crispação e agressividade dê lugar aos valores essenciais do desporto, que estão nos antípodas do fanatismo: competição saudável, fair play, amizade, respeito, convívio, alegria. Obviamente que, sendo o futebol um espectáculo de massas, as marcas continuam a olhar para este desporto como um palco altamente apetecível para garantirem a sua notoriedade. Mas os agentes do futebol têm de perceber que, a prazo, os anunciantes podem também começar a questionar a validade de estratégias que associem as suas marcas a uma indústria que insista em ser notícia pela negativa e a ocupar espaço mediático mais por polémicas e casos do que pela essência da competição.