“Sound of Freedom”: uma estratégia de marketing original para um filme conservador
Além do fenómeno “Barbenheimer”, há um outro sucesso que tem marcado o verão no box office americano. “Sound of Freedom” é o maior êxito do momento entre o público religioso […]
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Além do fenómeno “Barbenheimer”, há um outro sucesso que tem marcado o verão no box office americano. “Sound of Freedom” é o maior êxito do momento entre o público religioso e conservador, e promete mudar a forma como um filme é promovido.
Enquanto o furacão Barbenheimer continua a fazer estragos nas bilheteiras, um filme com um orçamento muito mais modesto e um percurso mais discreto, tornou-se o chamado “sleeper hit” deste verão, surpreendendo todos os analistas e deixando Hollywood de queixo caído.
“Sound of Freedom” custou cerca de 14 milhões de dólares e, recentemente, ultrapassou a marca de 100 milhões de dólares de receita nas bilheteiras. Em determinados dias, chegou inclusivamente a fazer mais dinheiro que o novo “Missão Impossível: Acerto de Contas, Parte 1”. Como é que isto se explica?
Crowdfunding e o sistema “pay it forward”
Por uma bem orquestrada campanha de marketing que se sustentou no grau de ativismo e de engagement do público-alvo. O drama sobre tráfico sexual de crianças, protagonizado por Jim Caviezel, ator conhecido pelo seu papel de Jesus em “A Paixão de Cristo”, que estreou a 4 de julho nos Estados Unidos, já tinha ficado à frente do novo Indiana Jones assim que estreou, sinal de que havia uma nicho de mercado com apetite para um género de filmes de cariz marcadamente conservador na sua mensagem.
O filme, inspirado na história verídica da Operation Underground Railroad, uma organização de combate ao tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual, foi financiado por um sistema de crowdfunding, liderado por investidores ideologicamente próximos de grupos de extrema direita, que procuraram o seu espaço num campeonato que afugenta a maior parte dos estúdios de Hollywood.
Mas a grande originalidade da estratégia de marketing de “Sound of Freedom” foi o sistema de “pay it forward”, que consiste em convidar os espectadores, no final de cada sessão, a contribuir para um fundo que permite a pessoas com menos meios terem acesso a entrada grátis. O próprio Jim Caviezel endereça esse convite ao espectador, antes dos créditos finais,
Este golpe de inspiração resultou de forma surpreendente. Grupos de cariz religioso e de políticas conservadoras têm comprado milhares de bilhetes, de tal forma que há sessões inteiras esgotadas. Mesmo que, muitas das vezes, não haja uma única pessoa na sala a assistir. Um fenómeno a que o TikTok e o Instagram já deram a devida atenção.
Os temas do filme, tráfico sexual e pedofilia coincidem com os temas do grupo de teorias de conspiração QAnon. E apesar dos produtores garantirem que este não é um filme imaginado por este grupo, o facto é que tem sido abraçado pelos simpatizantes de QAnon e de outros grupos de extrema direita, onde está incluindo a estrela do filme, Jim Caviezel.
QAnon é um movimento político americano que teve origem na esfera política de extrema-direita, em 2017, que alega que o ex-Presidente Donald Trump está a travar uma guerra secreta contra uma seita de pedófilos adoradores de Satanás, que inclui altos representantes do partido democrata norte-americano, além de personalidades conhecidas do mundo empresarial e dos media. Os seus apoiantes vaticinam que esta luta levará a um dia de ajuste de contas, em que pessoas como Hillary Clinton e Barack Obama, serão presos e executados.
Coincidência ou não, Donald Trump, que foi anfitrião de um visionamento privado no seu campo de golfe, já veio elogiar o filme nas suas redes sociais dizendo no seu estilo muito próprio que é um “documentário muito importante”, ajudando a confundir ainda mais a linha que separa a ficção da realidade.
Inicialmente pensado para ser exibido apenas no mercado americano, o sucesso do filme já garantiu a distribuição no Reino Unido (1 de setembro) e Espanha (11 de outubro). Por enquanto, não existe qualquer previsão de estreia em Portugal.
Os críticos têm escrito textos pouco abonatórios sobre a qualidade do filme, mas o público atribui a classificação “A” no Cinemascore, método que avalia a média de respostas dos espectadores logo após um visionamento.
Este fenómeno do verão que ninguém antecipava tem tido como base uma estratégia incentivada nas redes sociais que inclui frases como “o filme que a maldita elite financeira, artística e imprensa estão a boicotar” ou “o filme que ‘eles’ não querem que você veja”. Há algumas publicações de investidores do filme a alegarem que existem salas de cinema a boicotar propositadamente a exibição da fita, através de desfocagem das imagens ou acabando com a sessão abruptamente. Acusações prontamente negadas pelas cadeias de exibição, que defendem o óbvio: porque haveriam eles de querer perder dinheiro?
O facto é que a vitimização tem trazido dividendos, nesta campanha de marketing de causas que promete mudar no futuro a forma como se promove um filme.
Artigo assinado por Eduardo Marino, especialista em comunicação