Inversão de expetativas em contexto de gestão de crise
‘FCK’ (na foto), campanha da Kentucky Fried Chicken que causa polémica em 2018, é a que Diogo Stilwell gostaria de ter feito. ‘Long Live The Queen’, para a revista Sábado, é a que mais gostou de fazer, revela na rubrica do M&P Como É Que Não Me Lembrei Disto?
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Luis Batista Gonçalves
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Apesar de viver com o futuro em mente, Diogo Stilwell, redator da Dentsu Creative Portugal, não negligencia o passado, defendendo que a nostalgia causada pelos anúncios publicitários impactantes deveria ser alvo de estudo. Ao longo do tempo, são muitas as campanhas que o marcam e inspiram, embora existam momentos em que a criatividade desaparece. Nessas alturas, procura relativizar as coisas, esperando que o bloqueio criativo termine.
Qual é a campanha publicitária que gostaria de ter feito?
A campanha ‘FCK’ da Kentucky Fried Chicken (KFC). Podiam ser muitas outras, como a dos rótulos coloridos da Super Bock, a da devolução do quadro ‘Adoração dos Magos’ de Domingos Sequeira ao Museu de Arte Antiga, praticamente todos os filmes publicitários antigos da PlayStation, as campanhas ‘Palau Pledge’, ‘SickKids VS: Undeniable’ e ‘Notes’ da Take Note, entre muitas outras.
A lista é longa, mas, sendo o M&P um jornal, achei que fazia todo o sentido escolher uma campanha publicitária que foi criada para ‘print’.
Quais são as razões dessa escolha?
Na altura em que a campanha foi lançada, em 2018, a Kentucky Fried Chicken teve de fechar lojas, porque ficou sem frango. Na altura, encerrou 540 dos 900 restaurantes, no Reino Unido. Foi um escândalo. Alguns clientes chegaram a ligar para a polícia a contestar os encerramentos.
Esta campanha foi um sucesso tão grande que se chegou a especular que a Kentucky Fried Chicken tinha inventado a falta de frango só para a lançar. Considero-a uma obra-prima da publicidade, uma vez que resolve um problema, é verdadeira e é inteligente.
O que é que lhe chamou mais a atenção na campanha?
É uma campanha ‘KFCing clever’. Admiro a inversão de expetativas em contexto de gestão de crise e gosto do facto de a inscrição “We’re sorry” aparecer num tamanho de letra maior, para reforçar a sinceridade do pedido de desculpas da marca aos clientes.
Esta campanha inspirou-o a nível criativo?
Inspirou-me a nível criativo, porque o contexto é tudo. Grande parte do que consideramos valioso no mundo está associado às histórias que existem em torno dos objetos e dos conceitos que valorizamos. É por isso que temos aqueles desenhos miseráveis dos nossos filhos colados na porta do frigorífico. Valorizamo-los porque são nossos e porque há esse envolvimento.
Qual é a campanha que fez que mais o concretizou profissionalmente?
Tenho medo de absolutos. Ainda assim, felizmente, tenho a sorte de me ser difícil escolher a campanha que mais me concretizou. Mas, dado que sugeri anteriormente uma de imprensa, elejo outra de ‘print’, ‘Long Live The Queen’. Foi uma peça que a Dentsu fez para a revista Sábado, para celebrar o jubileu de platina da Rainha Isabel II de Inglaterra.
Estranhamente, desta vez, ao contrário do que costuma ser habitual, foi um processo linear, divertido e com poucos solavancos. Foi muito divertido ver a peça, que foi desenvolvida em apenas 12 horas, pronta e publicada num curto espaço de tempo. Apesar de nunca ter recebido confirmação oficial do Palácio de Buckingham, disseram-me que Sua Majestade adorou.
Como é que chegou à ideia e avançou para a execução?
Foi uma campanha de muita sorte. Gosto sempre que quem veja as minhas campanhas possa aprender algo com elas. Naqueles dias antes das celebrações do jubileu, não se falava de outra coisa. Proativamente, queríamos dar os parabéns à rainha, ao mesmo tempo que representávamos a magnitude do seu feito.
A muita sorte vem do facto do gráfico temporal dos tempos de reinado de todos os reis de Inglaterra encaixar perfeitamente no contorno da coroa. O resto é história. Aliás, no caso desta campanha, tudo é história, literalmente.
É a única campanha que fez a envolver a realeza e a aristocracia?
Não, também estive envolvido em ‘Devolver o Sporting aos Aristocratas’, uma campanha feita para que o Sporting CP fosse o primeiro clube do mundo a ter uma liderança dinástica. O primeiro presidente da dinastia seria D. Duarte Pio, um homem de méritos incontestáveis que, ainda em criança, já trauteava “Curva belíssima”, um dos hinos da Juventude Leonina.
Em que consistia essa campanha?
Houve uma altura em que o Sporting CP precisava de uma higienização presidencial. Juntamente com outro amigo aristocrata, propusemos algo tão inédito quanto inevitável.
Desenvolvemos uma campanha presidencial com uma longa lista de propostas, que incluía medidas como trocar os azulejos do Tomás Taveira por ouro e madeira, contratar dois mordomos por camarote, proibir a entrada no estádio de pessoas de ‘leggings’ e molas no cabelo e tornar obrigatório que os jogadores tivessem um ‘de’ no nome das camisolas, passando a apresentar-se com nomes como Adrien de Silva e João de Mário. Se procurarem, ainda encontram essa campanha no Facebook.
As campanhas atualmente estão mais ou menos criativas?
A nostalgia, apesar de muito frequente, é ainda uma área com pouca investigação. Na publicidade, a nostalgia também existe, acabando a passagem do tempo por fazer uma triagem. Esse é um luxo que não temos no presente. É verdade que havia campanhas péssimas há 20 anos e que há ideias incríveis a surgir todos os dias. Mas o contrário também é verdadeiro.
O que é que faz quando não tem ideias?
Volto ao princípio e inspiro-me na campanha ‘FCK’, da Kentucky Fried Chicken. Se uma cadeia mundial de frango frito pode ficar sem frango, porque é que não posso ficar sem ideias? É aceitar e respeitar o processo. Um dia somos o pombo, no outro somos a estátua. Temos sempre de acreditar que melhores dias virão. No processo criativo, não é diferente.
Ficha técnicaCampanha ‘FCK’ |
Ficha técnicaCampanha ‘Long Live The Queen’ |