"Angola não tem absolutamente nada a dar às empresas que chegam durante a noite"
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{INICIO}Em Portugal é sobretudo conhecido como tubarão. Mas, em Angola, Tim Viera está frente de um dos maiores grupos de comunicação e publicidade do mercado, a Special Edition Holding, que concentra agências como a TBWA Angola, a OnMedia (compra de meios) ou, na área de RP, a Uanda, uma parceria com a portuguesa GCI. O profissional, que confessa fazer tantas reuniões em Portugal como em Angola, diz estar sobretudo focado neste último mercado. Sobre as agências portuguesas que têm rumado a Angola, diz que são bem-vindas se forem com intenção de acrescentar valor e não de apenas tirarem lucros, algo que considera ter impedido muitas de terem sucesso. “Muitos não conseguiram ter êxito porque não se dedicaram a 100 por cento em Angola. Eles acham que conseguiram, mas a verdade é que muitos apenas quiseram investir o dinheiro e tirar os lucros o quanto antes”, aponta.
M&P: Nos últimos anos o M&P tem feito esta edição especial dedicada a Angola e muitas foram as empresas de comunicação e publicidade portuguesas que passaram pelas nossas páginas falando do mercado angolano como a sua maior aposta de internacionalização. Mas a verdade é que poucas são as que se conseguem afirmar. É preciso ser um tubarão para ser bem sucedido no mercado de comunicação angolano?
Tim Vieira (TV): Julgo que muitos não conseguiram ter êxito porque não se dedicaram a 100 por cento em Angola. Eles acham que conseguiram, mas a verdade é que muitos apenas quiseram investir o dinheiro e tirar os lucros o quanto antes. É por isso que muitas vezes encontramos o “copo meio vazio” na altura de investir e nenhum shark pode ajudar sem estarmos 100 por cento comprometidos.
M&P: Tendo a perspectiva de alguém de dentro, como é que é vista desse lado a incursão das agências portuguesas no mercado angolano?
TV: As agências portuguesas são sempre bem-vindas a Angola. Eles são profissionais, têm grandes talentos a trabalhar para eles e podem ensinar e treinar alguns angolanos, o que é um óptimo negócio para todos. As agências portuguesas têm muitos conhecimentos que podem partilhar e estão sem dúvida na dianteira da criatividade. Também acredito que Angola estava um pouco atrasada neste sector há uns anos, mas hoje já tem o seu espaço conquistado e tem um pouco de gindungo, algo especial que não pode ser copiado em nenhum lado do mundo. É por isto que também acredito que deve de haver um misto de profissionalismo português com a paixão angolana. Ser profissional sem paixão é como ler o Romeu e Julieta sem a Julieta. Simplesmente não funciona, fica sempre a faltar qualquer coisa. {FIM}
{INICIO}Tim Vieira tornou-se mais conhecido do público português nas últimas semanas no papel de um dos tubarões do programa Shark Tank, exibido na SIC. Em entrevista ao M&P, o CEO da Special Edition Holding, que detém, entre outras, a agência TBWA Angola, fala sobre o mercado e sobre os negócios do grupo que nada entre o peixe graúdo da comunicação em Angola{FIM}
{INICIO}M&P: Na prática, há alguma agência portuguesa que considere realmente sua concorrente ao em Angola são ainda agências locais e as multinacionais que dominam o mercado?
TV: O mercado está bem dividido e não posso realmente dizer que temos concorrentes pois a maior parte das agências são nossas clientes. O nosso grupo tem várias empresas ligadas à compra de media, produção, eventos, promoção, relações públicas e naturalmente agência. Por isso mesmo, fornecemos serviços aos clientes directos mas também para cerca de 18 agências que nos ajudam no crescimento. Temos consciência de que não conseguimos trabalhar com todos os clientes de forma directa, mas sabemos como ajudar as várias agências a fornecer um bom serviço aos seus clientes e, por isso mesmo, sermos parceiros do seu próprio crescimento. Existem boas agências locais e internacionais mas no fim elas são só boas se conseguirem dar o melhor serviço aos seus clientes. Espero que elas consigam ver a Special Edition como um parceiro sólido que lhes permita ajudar no seu crescimento.
M&P: Em Portugal, olhou-se muito para Angola como o El Dorado, a solução para os problemas gerados pela quebra do investimento no mercado português. Agora estão a surgir problemas desse lado e as empresas portuguesas começam a ver Angola com outros olhos. Ainda é um mercado interessante para as empresas portuguesas investirem?
TV: Angola tem um potencial de crescimento gigante, bem como de retorno para qualquer empresa de qualquer parte do mundo que pretenda investir e crescer de forma séria o seu negócio. E pela mesma ordem de ideias, não tem absolutamente nada a dar às empresas que chegam durante a noite e só pretendam explorar os vários recursos que o país tem disponíveis. Por isso, apenas empresas sérias é que devem pensar em investir em Angola. A minha visão do mercado é que é ainda bastante atractivo pois ainda existe muito para fazer e o sucesso é um reflexo do trabalho árduo que se faz. Nada vale a pena se é obtido de forma fácil e em Angola é igual.
M&P: A publicidade tem evoluído muito em Angola nos últimos anos. Como caracteriza actualmente o mercado?
TV: O mercado em Angola tem-se expandido de forma muito especial com campanhas cada vez mais importantes todos os meses. Tem também começado a entrar numa fase de maturidade mas com o ímpeto da juventude que ainda gosta de quebrar barreiras com uma personalidade muito própria. É tal e qual como o jindungo. Os angolanos adoram e dá sabor à vida, enquanto que os estrangeiros ficam com a língua a arder até se habituarem. Mas depois de se habituarem, vão amar.
M&P: Em que áreas da comunicação (publicidade, assessoria, digital, eventos) considera que o mercado mais se tem desenvolvido?
TV: O crescimento mais impressionante que vi foi na área dos eventos, tendo sido realizados alguns dos mais espectaculares que já vi em Angola. Mesmo nós temos alguns na manga que são de qualidade internacional. Aqui também temos o melhor que os portugueses têm com o melhor dos angolanos, a trabalhar em conjunto para fazer algo espectacular. Também penso que é a área melhor explorada por Angola, exportando para Portugal alguns dos artistas nacionais que hoje em dia têm um sucesso impressionante em Portugal. É, mais uma vez, uma daquelas ocasiões onde ambos os países saem a ganhar.
M&P: E quais as áreas com mais potencial? Em que disciplinas da comunicação há mais espaço para a entrada de agências portuguesas?
TV: Pessoalmente acho que ainda há muito que fazer em várias áreas mas, assim de imediato, diria que a produção de eventos desportivos e produção de programas televisivos. Ambos são áreas relativamente fáceis, mas onde acho que existem as oportunidades para as empresas que queiram deixar a sua marca.
M&P: O grupo Special Edition Holding está presente em várias áreas, desde a publicidade à compra e planeamento de meios, passando pela assessoria ou digital. Quais as áreas que têm mais peso no volume de negócios do grupo? E quais as que têm crescido a maior ritmo?
TV: O grupo investiu bastante no normal espaço de outdoors, embora agora tenhamos os painéis digitais, e na impressão digital, onde ainda continuamos a investir. Tivemos um crescimento na promoção, eventos e relações públicas mas estes com um grande esforço e dedicação. São áreas difíceis de negócio que requerem uma grande curva de aprendizagem dos erros cometidos e nós tivemos bastantes.
M&P: Consegue dar-me uma ideia de quanto o grupo cresce anualmente e quanto esperam vir a crescer este ano?
TV: O último ano foi mais um ano de consolidação, o que quer dizer que não crescemos tanto, mas preparámo-nos para 2015. Este ano o plano de crescimento está a produzir resultados, embora seja um ano que se adivinha de desafios, temos estado a superar as expectativas. Acho que somos um grupo que está aqui para ficar e, por causa disso, quando os momentos ficam mais difíceis, os mais preparados crescem mais. {FIM}
{INICIO}Portugal será muito de oportunidades de nicho em áreas como o wi-fi e drones {FIM}
M&P: Em termos percentuais, quanto vale cada unidade do grupo no volume de negócios global?
TV: Todas as nossas companhias estão na dianteira do seu sector. Todas dão o seu contributo para que o grupo tenha uma enorme vantagem competitiva e possa assim dar aos nossos parceiros o suporte necessário. Não tenho a certeza do que cada um deles representa, pois vejo o seu sucesso como um esforço de todo o grupo.
M&P: A agência de comunicação Uanda é fruto de uma parceria com a portuguesa GCI. Como está a correr essa operação?
TV: A parceria tem sido boa para ambos os lados, tal como qualquer parceria devia ser. Depois de um início atribulado, conseguimos ter uma equipa forte, disciplinada e profissional com uma equipa que cada vez mais tem angolanos na dianteira. O RP em Angola não tem nada a haver com o PR em Portugal e o nosso parceiro percebeu muito bem isso e adaptou-se da melhor forma. Acho que o melhor ainda está para vir, embora hoje e agora já esteja bastante satisfeito com o que a Uanda conseguiu.
M&P: O mercado português é um mercado que vos interessa em termos de internacionalização? Que unidades ponderam vir a expandir para Portugal?
TV: Para ser honesto, nem por isso. Portugal tem agências fortes e outras empresas de marketing igualmente fortes. Prefiro ser realista e concentrar onde podemos ter uma vantagem competitiva como em Angola. As únicas coisas que fizermos em Portugal serão muito de oportunidades de nicho em áreas como o Wi-Fi e Drones. Não temos ideia de exportar mais nada até porque estamos bastante atarefados com o negócio em Angola e com o que os nossos clientes precisam.
M&P: A On Media é a única unidade com presença internacional (Europa através de Portugal, Moçambique e África do Sul). Qual o peso de cada um destes mercados no volume de negócios da agência?
TV: Temos bastantes clientes portugueses que vão desde o sector da comida, bebidas, veículos à imobiliária. Gostávamos de trabalhar com todos e esperamos expandir a nossa carteira de clientes ainda mais. Temos algumas pessoas em Portugal que podem dar apoio a todos os clientes que tenham interesse em vir para Angola. Faço tantas reuniões em Portugal como Angola.
M&P: Esta é a única unidade com ambições internacionais ou está nos planos a médio prazo levar outras unidades para os mercados de Moçambique, África do Sul e Portugal?
TV: Não estamos a expandir em Moçambique e estamos actualmente a vender a operação ao pessoal lá residente. A África do Sul também não é para nós visto não termos uma vantagem competitiva nesse mercado. Em Angola estamos a trabalhar em criar parcerias estratégicas. Em Portugal, a OnMedia trabalha mais como uma holding que investe mais no negócio não relacionado com a media do que realmente a media. Aqui, de novo, em áreas nicho de mercado. Não temos mais nenhum plano. Vamos ficar concentrados em Angola, que já é grande de mais para nós.
M&P: Em Portugal está apenas com a OnMedia. Quanto vale o mercado português para o grupo?
TV: A OnMedia Portugal é ainda muito pequena mas o potencial de crescimento está a acontecer pois temos estado a identificar novas áreas de expansão e fazer assim o melhor lucro possível. Mas somos realistas. Portugal não é um mercado onde vamos ter lucro a curto prazo, mas acreditamos que está aí um futuro risonho em Portugal e nós queremos fazer parte dele. Os mais novos em Portugal vão perceber o seu potencial e vão empurrar Portugal para a frente. É isto que eu gosto e que me move.
M&P: Tem planos para expandir o grupo para outros mercados lusófonos, como é o caso do Brasil?
TV: No Brasil estamos numa corrida para um projecto de Wi-Fi mas tenho ideia que será um projecto difícil de concretizar. Mas também não vou perder o sono por causa disso. Estou hoje mais entusiasmado com Portugal e com Angola do que com qualquer outro país de expressão portuguesa.
M&P: O Tim está à frente de um grande grupo de comunicação, na vertente da comunicação corporativa, e é um investidor por natureza. Estender os seus investimentos à área dos media em Angola é algo que está no seu horizonte?
TV: Eu procuro por sócios quando expandimos os nossos interesses em media em Angola, pois gosto de ter profissionais a trabalhar comigo e por agora tenho de identificar possíveis parceiros para alguma nova aventura em Angola. Estamos agora atentos a parceiros baseados em Angola, pois acreditamos que podemos oferecer o profissionalismo e sinergias necessárias para que juntos possamos crescer no mercado local. É de novo uma relação onde ambas as partes vencem.
M&P: Teria interesse em investir em grupos de media portugueses?
TV: Nem por isso, porque não precisam de mim como investidor. Não tenho a força em Portugal, portanto seria sempre minoritário, o que complica o crescimento para todos nós.
M&P: No programa Shark Tank teve oportunidade de conhecer a Susana Sequeira, sócia da MSTF Partners, agência que está a operar em Angola. Falaram de negócios? Vamos ter uma parceria Partners/Special Edition Holding em alguma área?
TV: Alguns segredos são melhores se continuarem um segredo! Espero que todos tenham gostado do programa da mesma forma que eu gostei de o fazer.
Ser profissional sem paixão é como ler o Romeu e Julieta sem a Julieta. Simplesmente não funciona